SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, CORAL E OUTROS POEMAS.

   Hoje de manhã fui ao jardim para ler as últimas 30 páginas deste livro recém lançado pela Cia das Letras. Então 3 borboletas amarelas começaram a brincar entre as flores e a minha cachorra. Ficaram por quase meia hora, soltas, leves, instáveis, rodopiando. Se uniram em trio e subiram, subiram, subiram. Sophia é sobre isso.
  Este livro faz um apanhado geral sobre toda sua obra e deixa claro que ela foi crescendo de ano para ano. Ao contrário da maioria dos escritores, ela melhora com a idade. Portanto, as últimas 30 páginas são as melhores, seus poemas dos anos 80-2000.
  Sophia faz uma oposição: mar e cidade. Para ela, a cidade é o mal, o feio, o desarmônico. O mar é o bem, o limpo, o claro. Grega de alma, ela ama o sol, o azul, a liberdade e o equilíbrio. Os poemas que ela escreve na Grécia são das coisas mais felizes já escritas.
  Pois ela nunca foi uma poeta triste. Oposta a Fernando Pessoa, ela é ela-mesma e ela é sólida. Ela escreve sobre a alegria do real, a felicidade de se olhar o azul aos 2 anos de idade. Na infância a comunhão da criança com a realidade do mundo, o olhar sem intermediários. A poesia é a volta desse estado, mas agora através das palavras, palavras que buscam o resgate do que se perdeu, a realidade.
  Existem poetas que escrevem como escultores. Eles têm uma ideia e trabalham sobre ela usando palavras. Fazem e refazem, tiram e adicionam. Outros, como Sophia, recolhem ideias que nascem no nada e escutam o poema ser escrito na alma. Eliot é um exemplo do primeiro tipo, assim como Wallace Stevens. Já Lorca e Burns são exemplos do outro tipo, o tipo marítimo. As imagens vêm como ondas. Elas brotam.
  Não costumo citar trechos dos livros que leio, quero que vocês os procurem; além do que citar fora de contexto é sempre um perigo. Os poemas de Sophia são curtos, breves, leves, simples, lapidares. E são feitos de água, sal e muito sol. Como ela mesma diz: " apesar da morte, minhas mãos nunca ficam vazias".