O DOM, ROMANCE DE VLADIMIR NABOKOV

   São as impressões de um jovem poeta russo morando na Berlim dos anos 30. Na verdade ele é um vulcão de lembranças, sensações, sentimentos, medos, desejos, raivas e sonhos pesadelos. A escrita de Nabokov, um exibicionista aristocrático, é hiper rebuscada. Se ele pode escrever 70 linhas por parágrafo, porque não aumentar para 90?
   Eu adoro esse estilo, um modo de narrar que não facilita nada para o leitor e que mostra o dom do autor em sua plenitude. E este pensamento me faz pensar nos autores que são muito famosos e pouco lidos. Qualquer pessoa de cultura média conhece Nabokov de ouvir falar. Assim como são famosos Joyce, Proust, Beckett ou Eliot. Mas a questão é: Voce leu esses autores? Gente como Nietzsche ou Kafka são famosos e sabemos que são lidos. As edições em banca de jornais provam isso. Dostoievski e Tolstoi são famosos e continuam sendo lidos. Mas e Nabokov? A editora Alfaguara tem lançado seus livros, mas acho quase impossível que mais de 5000 pessoas, número ridículo, leiam este livro.
  Nabokov, assim como Joyce, deve sua imensa fama à censura. Lolita fez dele um astro, e essa obra prima do humor é seu livro mais acessível. De longe. Sua escrita jamais deixa de ser refinada, é um aristocrata escrevendo para seus pares. É sempre um grande escritor, mesmo em seus excessos.
  Se 5000 pessoas lerem este romance então serão 5000 aristocratas da leitura. É um belo número em termos de sangue azul. Mas diante de sua fama, é quase nada.