Nasci a tempo de conhecer o mundo sem TV. Melhor dizendo, claro que em 1969 já havia TV, eu vi Neil Armstrong descer na Lua ao vivo. Lembro disso. Mas eu vi ainda o mundo em que ter uma TV em casa era sinal de burrice e de falta de classe. Gente rica não tinha TV. No máximo botava uma no quarto da empregada. As pessoas jantavam tarde e antes do jantar bebiam, fumavam e conversavam. Comiam e depois se dividiam, umas iam ler revistas, outras ouviam música e algumas faziam tricot. As crianças brincavam no tapete. Era isso. Com a TV continuou a se beber, fumar e falar. E a brincar no chão. Mas as revistas e a música foi deixada de lado. O som ambiente deixou de ser o disco do Ray Conniff e passou a ser o zumbido do JN.
Minha geração é a primeira a ter saudade da TV como ela era. Anos Incríveis mostra isso muito bem. Criamos uma mitologia afetiva ao redor de lixo como Ultraman ou Speed Racer. A TV para nós era a janela para a imaginação. Ela era colorida, barulhenta, alegre, livre, era tudo aquilo que nossa casa não era. Mas, que praga, psicólogos e sociólogos diziam que a TV deixaria minha geração cretina. Que nós não conseguiríamos ler, prestar atenção, pensar. Pois é...
Com o Smart Phone acontece o mesmo hoje. E agora que me viciei em um, posso dizer que olhando de dentro é tudo papo pra boi dormir. Porque vejo a coisa de dentro e não de fora. Não me ponho na sala com um cigarro lendo o NYT. Estou de frente pra tela todo o dia. E que Deus salve a tecnologia digital.
Olho a triste e entediante verdade que me cerca e entro em outra verdade. Vivo ao lado de amigos que continuam conversas que nunca terminam. E para uma pessoa, que como eu, ama a narrativa, isso é apaixonante. Explico pra vocês: Conheço M. Ela me conta hoje que brigou com A. Depois de duas horas me manda fotos da sua cara de briga. A noite ela me diz que fez amor com A. Mas que continua com raiva. E agora ela me manda fotos de uma loja onde procura uma saia nova. Quer minha ajuda para escolher. Digo mais, amanhã ela me dirá onde está, o que está comendo e se o namoro sobreviveu. Esse é um tipo de compartilhamento de solidões que só existiu no tempo das tribos. E isso nos afasta do aqui e agora? Claro que não. É apenas mais um aqui e agora. Que compartilha o ali e depois.
Assim como M, tenho contato constante com V, R e Z. E sinto que estamos todos juntos, todo o dia, inclusive nas madrugadas de insônia. Ando pela cidade com elas, durmo com elas e acordo com elas. E quando me canso, desligo o botão. Mas o que assumo aqui é que gosto disso. E acho que devíamos levar isso mais a sério, como um bem que nos livra das paredes frias da sala onde a TV ficou velha.
Há uma foto "inteligentinha" na NET que mostra um bando de crianças ao lado de um quadro de Rembrandt. Elas olham seus phones e ignoram a pintura. Sinto dizer que antes da internet elas estariam olhando as paredes, as caras umas das outras, o chão, e nunca a pintura. Eu não amo pinturas por causa dos museus. Amo por causa de programas de arte que vi na TV. Irônico né...
Só mais uma coisa: O smart phone me salvou de conversas com gente chata. Elas acham que abro a tela por ser apenas um viciado. Não sabem que a abro para me salvar delas. Para pessoas tão legais quanto M, V ou R, estou sempre aberto, no phone e na sala de casa.
Minha geração é a primeira a ter saudade da TV como ela era. Anos Incríveis mostra isso muito bem. Criamos uma mitologia afetiva ao redor de lixo como Ultraman ou Speed Racer. A TV para nós era a janela para a imaginação. Ela era colorida, barulhenta, alegre, livre, era tudo aquilo que nossa casa não era. Mas, que praga, psicólogos e sociólogos diziam que a TV deixaria minha geração cretina. Que nós não conseguiríamos ler, prestar atenção, pensar. Pois é...
Com o Smart Phone acontece o mesmo hoje. E agora que me viciei em um, posso dizer que olhando de dentro é tudo papo pra boi dormir. Porque vejo a coisa de dentro e não de fora. Não me ponho na sala com um cigarro lendo o NYT. Estou de frente pra tela todo o dia. E que Deus salve a tecnologia digital.
Olho a triste e entediante verdade que me cerca e entro em outra verdade. Vivo ao lado de amigos que continuam conversas que nunca terminam. E para uma pessoa, que como eu, ama a narrativa, isso é apaixonante. Explico pra vocês: Conheço M. Ela me conta hoje que brigou com A. Depois de duas horas me manda fotos da sua cara de briga. A noite ela me diz que fez amor com A. Mas que continua com raiva. E agora ela me manda fotos de uma loja onde procura uma saia nova. Quer minha ajuda para escolher. Digo mais, amanhã ela me dirá onde está, o que está comendo e se o namoro sobreviveu. Esse é um tipo de compartilhamento de solidões que só existiu no tempo das tribos. E isso nos afasta do aqui e agora? Claro que não. É apenas mais um aqui e agora. Que compartilha o ali e depois.
Assim como M, tenho contato constante com V, R e Z. E sinto que estamos todos juntos, todo o dia, inclusive nas madrugadas de insônia. Ando pela cidade com elas, durmo com elas e acordo com elas. E quando me canso, desligo o botão. Mas o que assumo aqui é que gosto disso. E acho que devíamos levar isso mais a sério, como um bem que nos livra das paredes frias da sala onde a TV ficou velha.
Há uma foto "inteligentinha" na NET que mostra um bando de crianças ao lado de um quadro de Rembrandt. Elas olham seus phones e ignoram a pintura. Sinto dizer que antes da internet elas estariam olhando as paredes, as caras umas das outras, o chão, e nunca a pintura. Eu não amo pinturas por causa dos museus. Amo por causa de programas de arte que vi na TV. Irônico né...
Só mais uma coisa: O smart phone me salvou de conversas com gente chata. Elas acham que abro a tela por ser apenas um viciado. Não sabem que a abro para me salvar delas. Para pessoas tão legais quanto M, V ou R, estou sempre aberto, no phone e na sala de casa.