SOBRE GATOS - DORIS LESSING

   Se não me engano Lessing ganhou o Nobel em 2007. Não é meu estilo. Ela é feminista demais para meu gosto. Mas aqui lhe dou uma chance. Porque ela fala de gatos. Dos gatos que teve, ou que a tiveram. E leio com muito gosto. Ela tem um estilo simples, sintético, exato. Ela nunca embeleza e nem se estende. Conta as histórias. E elas não são extraordinárias. São ótimas.
  É melhor que o livro sobre gatos de Virginia Woolf? Não dá pra comparar. Difícil ver duas escritoras tão diferentes. Este livro começa na Africa, na infância de Doris, e lá sua família, numa fazenda, tem dezenas de gatos. Ela descreve cenas cruéis. Só quem já viveu em meio aos bichos sabe: a vida próxima à natureza é vida junto à morte. Depois ela vai para Londres e lá tem mais alguns gatos.
  Que maravilha o modo como ela descreve a pobreza da Londres do pós-guerra! Que lindo o modo como ela fala do movimento de um gato, do olhar, da comunicação que se faz entre bicho e humano.
  Não, ela não os humaniza. O foco é no humano em relação ao gato. O humano pensa aquilo que o gato poderia estar sentindo ou tentando dizer. O centro não é o animal porque ele não tem voz. Mas isso não nos impede de amar esses gatos. Gatos filhotes, gatos da rua, gatos estropiados.
  Para o dono de gatos é uma festa. Para quem não os tem é um convite.