NO QUARTER - PAGE E PLANT OU A CULPA É DO KEITH RICHARDS.

   Só uma mentalidade muito preconceituosa faria com que alguém em 1993 não amasse o disco de Plant e Page. E em 1993 eu era preconceituoso. Foi uma de minhas fases moderninhas, estava deslumbrado pelos sons coloridos das raves e tudo que não queria ouvir era som de hippies velhos. ( Ironia, hoje sou mais velho que eles eram então ). Uma pena. Eu adoraria o disco naquele tempo e o adoro hoje.
   Robert Plant é o único cara da história do rock que virou estrela sem jamais deixar de ser quem ele sempre foi. Pode ser visto andando de bike em Londres. Podia ser visto em shows de punk rock em 1978. Envelheceu sem disfarçar uma só ruga. E fiel aos preceitos hippies, nunca usou o nome do Led Zeppelin para fazer dinheiro. A banda poderia bater todos os recordes de bilheteria hoje. Ele não liga. Conseguiriam juntar um milhão de pessoas nas areias do Rio. Pra que?
   Neste disco eles fazem uma coisa mágica. Pegam canções do Led e conseguem torna-las novas sem deixar de serem as mesmas. Cavam fundo naquilo que elas sempre foram e expõe ao mundo suas origens celtas e árabes. Medievais. É música da idade média. E é música de sempre. Os arranjos, ciganos, druidas, junguianos, trazem a atemporalidade e o sonho ao universo do agora. Tolkien, ídolo de Plant casado com Muddy Waters. Funciona. O disco escutado hoje continua de amanhã.
  Keith Richards continua para sempre congelado nos acordes de 1968. A única ousadia é misturar reggae ou James Brown à Brown Sugar. Não há e nem jamais haverá a menor chance de que ele modifique suas músicas. Elas são pedras. Ainda rolam, mas estão mortas. Seria lindo ver Satanic refeito no palco. Com indianismo, marroquismo e xamanismo. Ou o Banquete dos Mendigos com doses de punk e de eletro. Mas não. Keith não deixa. Ele é um negro do blues e vai morrer sendo isso e só isso. Ok.
  Mas este No Quarter...