CRIANÇAS

   Não confunda uma pessoa que mantém sua criança viva dentro de si, com uma pessoa infantil. Um adulto infantiloide foi uma criança pouco "criança". Foi uma criança sem a principal característica de uma criança, a curiosidade sem fim.
   O adulto infantil é apenas um chorão. O adulto criança é um curioso. Ele jamais aceita um fim nas coisas. Para ele, tudo tem um depois e depois e mais um depois. Não há solução, dogma ou lei que o satisfaça. Ele pergunta mais e mais e mais.
   Esta foi uma das mais brilhantes aulas que tive. Ela envolveu neurologia, linguística e filosofia. E o assunto era A Criança.
   A criança olha, cheira, ouve e procura. Cada nova planta, bicho, manhã, noite, pessoa, é digna de um interesse profundo, curioso, investigativo, perscrutador. Ela quer entender, entrar, tocar, pegar, comer. Tudo. O cérebro é conectado com todo o FORA. Ele é ainda um vazio que não tem fim e por isso, sente fome.
  A educação, por mais que tente não fazer isso, MATA essa curiosidade. Ela cansa e dá a todo questionamento uma resposta pronta, fechada, definitiva, final. O vazio se enche daquilo que já vem mastigado, dividido, catalogado, pesado e curtido. A curiosidade se vai.
  O CÉREBRO ADORMECE. ( Que bela imagem essa! Um cérebro que dorme ).
  Ergo a mão ao fundo da sala e digo: " Então o gênio é aquele que continua criança! Pois Goethe, Mozart, Michelangelo jamais adormeceram!"
  A mestra diz que é exatamente isso! O gênio é uma criança que nunca se fecha. Por isso eles são vistos, na vida pessoal, como inconsequentes, tolos, perdidos ou bobalhões. Deixam o bom tom, o que é esperado pelos adultos de lado, e continuam querendo ver, cheirar, pegar e ir lá fora. Continuam principalmente dizendo: "Eu não sei", "Porquê sim" e "Não tem motivo". Portanto, nunca confunda um adulto-criança com um maluco doidão ou um intelectual revoltado. Esses falam por e com afirmações. O adulto-criança faz perguntas. E se cala.
  O normal na humanidade deveria ser o que vemos como raro. Todos poderiam ser Mozart. Mas, para poder viver em grupo, todos por um e um por todos ( toda criança é egoísta ), transformamos essas crianças em adultos. Gente previsível, prática e pouco curiosa. E os talentos se tornam, digamos assim, apenas "inteligentes", ou seja, funcionais e razoavelmente criativos. Integrados mesmo em sua loucura tratável.
  Por isso, como educador, devemos tentar salvar pelo menos uma migalha dessa curiosidade. Não a sufocando completamente com verdades absolutas, fórmulas incontestáveis e planos fechados.