LUCIEN LEUWEN - STENDHAL

   Lucien é o filho mimado de um milionário de Paris. É então, enviado pelo alegre pai, para o exército. Não é tempo de guerra, e ele fica entediado na cidade de Nancy. Lucien na verdade odeia o exército, não a guerra. Sente falta da cidade grande. Para ele, tudo lá parece brega, interiorano, ridículo.
   Ele é acossado por seus superiores. Eles lhe invejam o dinheiro. E Lucien tenta travar relações com a aristocracia da cidade. Os aristocratas de Nancy, afetados, esnobes e cheios de medo de uma nova revolução, são decepções sem fim. Lucien odeia seus modos, seus exageros, suas cerimônias e frieza espectral. E eles suspeitam daquele homem sem nome, um sobrenome vulgar, um rico sem passado, um burguês.
   O livro fala muito de politica. Logo Stendhal, que dizia ser contra a politica em romances. Há por toda parte o confronto entre republicanos e aristocratas, entre realistas e jacobinos, papistas e ateus. Lucien mal se coloca, ele é colocado.
   Romance que Stendhal não terminou, não revisou, o volume tem momentos em que sentimos a falta de um corte, o excesso de uma frase, logo em Stendhal, um autor que nunca comete erros, que é sempre exato em tamanho e preciso em ritmo. Portanto, que não se espere aqui a altura sublime de O VERMELHO E O NEGRO, e nem o milagre em clima e estilo de A CARTUXA DE PARMA. Esses dois são monumentos da humanidade, Lucien é apenas um ensaio para um monumento. Um croqui.
  Mesmo assim, há em suas páginas aquela movimentação colorida, viva, de Stendhal. A habilidade em criar personagens profundos em apenas duas linhas. Frases que ficam e duram, cenas que desenvolvem almas e dão ensejo a ações inesperadas. Stendhal nos conduz, como todo grande romancista, pega nossa mão e nos leva.
  Depois Lucien se apaixona. E sofre o mal entendido de frases ditas pela metade. É quando o livro brilha menos. Falta a revisão, o rumo do autor. É belo o modo como a mente dos dois amantes se embaralha e se perde. A psicologia de Stendhal é infalível. Mas sentimos que ele derrapa às vezes.
   É um livro, longo, que poderia ser perfeito. Como ficou, é tão somente, memorável.
   E, claro, um prazer.