DEBBIE, STANLEY, GENE, DONALD E A GENTE

   A alegria não cabe mais em nosso mundo. O que nos consola é um tipo de histeria sorridente que nada tem a ver com a alegria. No cinema o máximo que podemos almejar é a comédia cínica ou a fantasia abstrata. Há pudor em ser alegre no mundo da arte. Ou pior, há maldade no mundo artístico.
  Debbie Reynolds encarnava a inocência. Stanley Donen a elegância. Gene Kelly a destreza e Donald O'Connor o humor. Todo se uniram para fazer CANTANDO NA CHUVA, o filme que todo amante da vida tem a obrigação de ver. É a prova dos nove de seu grau de sanidade.
  Debbie partiu. Ou melhor, nosso mundo não mais pode a aceitar. Ela e seu universo são tão distantes de nós que se tornaram incompatíveis.
  Debbie viveu os dois mais temidos pesadelos da alma feminina: Ela perdeu o marido para a melhor amiga e ao fim da vida viu sua filha morrer. Por piedade ela morreu. Justo.
  Meu mundo é este de agora, pós 1968, o mundo em que Deus é o desejo e todo desejo é poder. O desejo é Dionísio e as pessoas se esqueceram que Dionísio é um deus cruel, violento, egoísta. Ele exige sacrifícios em sua honra, sangue e vinho. O mundo de Debbie era o de Apolo, elegante, belo, ordenado ( mesmo que fosse apenas aparência, aparências são o mundo ). Ela sorria, cantava, chorava, sorria de novo e sabia dançar. Era a vizinha que todo mundo quer ter, a namoradinha da sexta série, a melhor amiga que vira esposa. Nunca foi sexy, ela era amável.
  Partiu.
  E o que nos resta, enquanto alguns ainda sabem, é cantar na chuva e ser um palhaço.