UM IMPÉRIO DE GELO - EDWARD J. LARSON

   O livro começa com o Polo Norte, a busca por uma passagem que unisse oriente e ocidente. Peary parece ter atingido o ponto norte, mas o norueguês Amundsen é considerado o primeiro herói dessa jornada. Usando cães, ele era acima de tudo um prático. Mas o foco do livro são os ingleses, Scott e Shackleton. As histórias contadas beiram o inacreditável. São homens enfiados em buracos no gelo, vivendo meses no escuro, comendo carne foca crua, doentes, com roupas imundas, sem água, isolados. Larson busca a motivação de toda essa saga. E a encontra, seu nome é nacionalismo.
  A Inglaterra precisava se manter na ponta do globo e em 1900 seu poder já se via ameaçado pela Alemanha. Homens da politica, cientistas eugenistas, imprensa, todos clamavam pela preservação do ideal da " RAÇA INGLESA", ou seja, preservar a " CORAGEM E A VIRILIDADE" dos velhos tempos. Unindo isso ao amor inglês à ciência, fez da conquista do Polo Sul uma questão de honra.
  E assim, enquanto Amundsen chegaria ao ponto sul com seus cães e trenós, rápido  e sem grande dificuldade, vencendo os ingleses mais um vez, e se tornando o herói dos dois polos, Scott caminhava pelo Sul do modo " honrado e digno de um inglês ", ou seja, a pé e puxando trenós de 50 quilos no braço, na raça. Isso provaria a superioridade da raça saxã sobre todas as outras. No caminho seriam coletados animais, pedras, amostras para o engrandecimento da ciência, campos como meteorologia, geologia, botânica, zoologia, biologia. Scott seguiu à risca essa fé e fez de sua viagem um martírio.
  Mas me adianto pois essa é a viagem final e fatal de Scott. Antes ele fez outras, e em todas ele fracassava em atingir o centro do polo, mas trazia grandes desenvolvimentos científicos. Shackleton enquanto isso, um tipo de patinho feio da época, conseguiu jamais perder um homem e trazer mais amostras que Scott. Larson percebe que esse clima dos anos 1900-1910 já trazia dentro de si aquilo que desembocaria na Primeira Guerra. Se colocar à prova, virilidade, raça, manter a honra da nação.
  Após a guerra um tipo como Scott passaria a ser deplorado. Um tipo de trapalhão, um homem cego pelo dever, um comandante que pouco ligava para a vida. E Shackleton, muito mais cuidadoso, o líder gentil que jamais perdeu uma vida, se torna o grande herói inglês do Polo. Ambos perderam para Amundsen a prioridade da chegada ao centro sul, mas o norueguês apenas desejava chegar lá, os ingleses faziam ciência pelo caminho.
  É um livro épico, cientifico e que evita cuidadosamente a lenda.
  Boa leitura.