UMA IRMÃ, UMA AMIGA, UMA PERDIDA; DESCUBRO VIRGINIA WOOLF E ADORO.

   Virginia Woolf escreve como uma mulher muito, muito sensível. Não do tipo chorosa, mas como um tipo de nervo exposto. Antena. Ela capta tudo a seu redor: cores, vozes, cheiros, vento, calores, movimentos; e une tudo isso a suas memórias, dores, risos, rostos, sons. Vomita esses fragmentos no papel. O leitor que os aprecie como aquilo que eles são: fragmento de vida.
  Ela escreve como Debussy fazia sons. Como pingos de tinta. Organizados. Há rigor na sua escrita. E música. Melodia. Harmonia.
  É uma irmã que descubro só agora. Ela escreve como eu escrevo quando muito inspirado. Os poucos textos meus dos quais me orgulho são como os dela. E só agora descubro isso. ( Talvez a tenha evitado por já saber disso ).
  Talvez se vivesse hoje os remédios salvassem Virginia. Talvez ela os evitasse. Eles iriam obscurecer seu radar. O nervo que tudo captava captaria pouco então.
   Ela completa a irmandade: Proust, Joyce e Kafka. O quarteto modernista. Dos quatro ela é a mais feminina, a mais sintética, objetivamente turva. Proust entra na mente e a vasculha. É uma lente de aumento voltada para dentro do olho. Ele encontra a alma e a admira. Ama. Joyce pega a vida e faz dela uma anedota. Ele ri para não chorar. Como uma mosca, ele voa pelas ruas da cidade e pega um pouco de todo lixo. Une esses restos e tenta criar um monumento. De dejetos. Kafka é a minhoca. Ele sai da lama e se debate ao sol. Seu mundo é escuro e úmido. Seus caminhos levam a mais lama.
  São os modernistas fundamentais. Os que descobriram a cidade, a mega cidade, a sociedade incivilizada, o fim do lar, da família, da igreja. Os grandes negadores.
  Entre eles Virginia é a borboleta. ( Observe que Proust é o único que não é um animal. É uma lente. ) Ela quer voar mais alto e mais forte. Mas voa hesitante. E entre flores lembra da lagarta. E breve, cai.
  Bem vinda Virginia.