Me meti em aulas de Historiografia. Heródoto. Muito chato. Mas às vezes a gente tira algo de legal. Por exemplo o fato de que até o século XVII, sim, tipo 1690, todo mundo lia para ser ouvido. A ideia de se ler a sós, de boca fechada, seria considerada esquisitíssima. Mais que isso, até o século XIX, viver era um ato compartilhado. As pessoas viviam nas ruas e os poderosos tinham a casa sempre cheia. Comer, dormir, ler, passear, cozinhar, arrumar, tudo era em grupo. Para eles seria um castigo horroroso ter de ler sozinho, em quarto vazio, ou comer ou se banhar. Essa ideia de eu e minha alma era coisa apenas de frade ou de freira.
Nosso tempo criou a ideia de que até a religião pode ser a sós e que até mesmo a igreja pode ser individualizada. Temos a ideia, tola, de que a realização máxima seria possuir uma ilha só sua. Vaidosos, gostamos de pensar que somos um eu único, especial, uma coisa muito rara.
Para os antigos ser único, raro, seria o inferno. A vida só fazia sentido quando vivida em compartilhamento. O eu só era vivo e válido quando em relação aos companheiros de costume e de raiz.
Penso que a internet, as redes sociais, são a tentativa, válida, de compartilhar outra vez, de ser parte de tribo, de ter a sensação de nunca se estar só.
Algo de bom pode vir daí.
Espero.
Nosso tempo criou a ideia de que até a religião pode ser a sós e que até mesmo a igreja pode ser individualizada. Temos a ideia, tola, de que a realização máxima seria possuir uma ilha só sua. Vaidosos, gostamos de pensar que somos um eu único, especial, uma coisa muito rara.
Para os antigos ser único, raro, seria o inferno. A vida só fazia sentido quando vivida em compartilhamento. O eu só era vivo e válido quando em relação aos companheiros de costume e de raiz.
Penso que a internet, as redes sociais, são a tentativa, válida, de compartilhar outra vez, de ser parte de tribo, de ter a sensação de nunca se estar só.
Algo de bom pode vir daí.
Espero.