ZICO com ROBERTO ASSAF e ROGER GARCIA

   É um lindo livro sobre um jogador muito especial.
   Acompanhei toda a carreira de Zico, desde 1975, quando começou a se falar nele, até o final. Depois disso, sua moral nunca mais caiu. Depois da era Pelé, Zico é o mais inatacável do jogadores. O cara tem caráter. Conseguiu sobreviver a dois terremotos que teriam derrubado qualquer outro.
  Primeiro o imenso preconceito que havia em SP contra o futebol do Rio. Zico foi até 1981 considerado uma invenção de carioca, uma tentativa do Rio de criar um novo Pelé. Por melhor que ele jogasse, por mais gols que fizesse, ele era chamado de enganador, falso, um mero produto. Mas eu vi a mudança. Foi exatamente em 1981. Nesse ano, com o Flamengo que tinha Tita, Raul, Adilio, Andrade, Junior, Leandro, ele ganhou mais de 15 troféus em um ano! Dois torneios na Espanha ( num deles vencendo o Barcelona ), mais um na Colômbia. Depois o carioca, a libertadores, o mundial e mais alguns outros torneios. Eu vi Zico no Morumbi vencer o São Paulo de Serginho, Renato, Daryo Pereyra, Oscar; depois voltar e vencer o Corinthians, o Palmeiras, o Guarani. Eram sempre grandes jogos, mais de 90.000 pessoas, placares tipo 4 X 3, 3 X 2...
  Depois ele venceu o azar histórico de não ter ganho uma Copa do Mundo. Jogou as de 78, 82 e 86. A da Espanha era sua copa. Deu no que deu. Mas ele sobreviveu. Passou sem mácula.
  Ele era um atacante. Um cara que pegava a bola na linha do meio e ia tabelando, tocando curto até dentro da área. Driblava, mas seu grande dom era o passe. Ele tocava e quando recebia de volta já sabia o que fazer a seguir. E acima de tudo ele fazia gols. Muitos. Centenas. Só em 1979 foram mais de 70. Vi dúzias de vezes ele vencer sozinho, desequilibrar um jogo amarrado. Mas cima de tudo, Zico amava jogar. Ele sorria.
   Este livro mostra sua infância, livre, na ZN do Rio. O pai, que o educou e fez dele um homem honrado, os irmãos, todos jogadores bons de bola, o casamento com a namorada da adolescência. Uma vida que parece abençoada, protegida, mágica.
  Ler a vida de Zico é ler uma vida boa e do bem.