A IRA BRASILEIRA ( 2015 FOI UM SACO )

Quando a gente assiste um filme do Mazzaropi, ou do Oscarito, Zé Trindade, percebemos como o Brasil de 1955 era pobre. As casas nada tinham. Um fogão, um rádio e é só. Coisas que os americanos tinham a uma década, TV, aspirador de pó, batedeira de bolo, lava roupas, aqui era coisa de milionário. O telefone era símbolo de poder! Veja só.
Como nada na vida é uma coisa só, essa pobreza fazia do brasileiro um povo muito fácil de agradar. A vespa da insatisfação consumista não picara ninguém. A ambição era um bife e uma Teresa para namorar. Claro que se sofria por isso! Se sofria por uma caxumba também. Mas eu falo de humor, e esse ainda era a marca do brasileiro típico. Bobo. Mas um bobo alegre.
A coisa começou a mudar durante a década de 70 e se perdeu de vez nos anos 80. Em 1970 a ambição era o fusca e o violão, mas em 1980 já era a casa na praia, o sítio, a viagem à Paris, a nova TV, mais um carro e um monte de roupas novas. O brasileiro ainda se via como um ser abençoado e alegre, mas esse humor, que fora um dia ingênuo, era agora cínico.
Chegamos ao tempo atual e em 2015 foi escancarado o novo fato: o Brasil é muito, muito mal humorado. A gente não consegue mais rir da desgraça. A gente censura quem ousa rir dela. Sim, eu sei, existem motivos: fomos enganados. Acreditamos que seríamos ricos, que o Jeca ia virar Jack, que emprestaríamos dinheiro pros gringos. E notamos agora que somos os mesmos de sempre: endividados, confusos, mal geridos e vendedores de matérias primas. Então estamos irados.
Sem o humor e o riso fácil perdemos aquilo que nos redimia. Ficamos sendo um povo chato. Muito chato. Nós sempre nos demos mal. Nada há de novo. Mas agora somos aqueles otários que se pensaram especiais e viram que tudo era um conto do vigário. Não somos mais os que contam a piada, somos o objeto do riso.
Eu estive lá e sei que o "mito" do brasileiro sorridente foi verdade. Era fácil conversar com um estranho na rua. Muitos risos nos bares. Homens de bigodinho com um sorrisinho na cara. Programas de humor às dúzias na TV e no rádio. O humor era bobo, caipira, inofensivo. E por isso ainda era feliz.
Nosso humor hoje é agressivo, ofensivo, violento até.
Entramos no século XXI como consumistas consumados. Queremos tudo e queremos já. Mas nunca passamos pela cidadania do século XX. Toda a onda de educação, direitos, sindicalismo democrático, informação dos anos 1950-1970 nos foi negada. Como roceiros mazzaropianos, caímos no meio de um shopping em liquidação. E sem entender nada, achamos que tudo era só isso.
E agora, irados, estamos de bolsos furados.
Meus amigos trabalham mais que nunca. Os despreocupados dos anos 90 hoje são ansiosos.
O Brasil virou um pé no saco!