PRESENTES DE NATAL: A ARTE DO KITSCH = SEXY COM PIMENTA.

Comecemos dezembro com quatro presentes de mim para todos vocês. Comecemos com o mestre do sexy: Bryan Ferry. Quatro vídeos de quatro discos diferentes. Todos apresentam a tapeçaria sonora na qual ele é mestre. Linhas de som vão se costurando uma na outra e se você fechar os olhos e se deixar conduzir irá se perder nos nós rítmicos que são então construídos. Dezenas de instrumentos urdidos em batidas negras e enfeitadas por sonoridades gélidas. Sim, é artificial. Sim, é pura produção. Mas é delicioso!
Quanto as imagens... Ferry criou e depois marketeou a mistura que ele aprendeu com seu professor de artes plásticas: Richard Hamilton, o mestre POP, nos anos 60, quando aos 18 anos o jovem Bryan estudava na escola de Artes de Birmingham. Essa mistura é o sonho colorido de um jovem aberto ao mundo do NOW. Surrealismo com cabaret barato. Páginas da Vogue unidas a paredes do MOMA. Comercial de cigarro e festas em Montmartre. Filmes de Carné e musicais de Fred Astaire. James Bond brega com o mais fino Cecil Beaton.
E Bryan, cercado de gatas, se equilibra nesse mundo que vai do mais lixo ao mais luxo. Se equilibra inclusive e principalmente nesse modo gay de se hetero. Dúbio sempre.
A dubiedade e a decadência é aquilo que melhor o define. Todos os vídeos parecem muito ricos e muito toscos. Muito chiques e Buzina do Chacrinha. É proposital. Estilo. Gente como George Michael ou Seal tentou ou viu só o chique, e assim se tornou apenas Vogue. Ferry vai além. O brega apimenta e dá relevo ao bonito. Seus vídeos são agora o que eram em 1995: instigantes. Beleza com pimenta e alguma sujeira= eis o cool.
Essa dubiedade se revela no som também. É muito POP, mas nunca o bastante. Falta sempre o refrão grudento. É dançável mas nunca quente. E Bryan canta como um romântico, mas nunca canta forte, apenas murmura. estranheza.
Mamouna é fascinante. Limbo é pervertidamente kitsch. I Got a Spell é tentador. E ainda há apenas a beleza banal e colorida de mais um...Presentes de Natal.
BF é sempre um laço de fita que a gente abre suspirando.