Minha origem é portuguesa. Já devem ter notado isso. Sou filho de pai e mãe e não tenho tio ou primo que não sejam de lá. Estive em Portugal. Conheci o país muito pobre de 1982. E o menos pobre de 1985. Minha mãe vai lá quase todo ano. Diz que tudo mudou. Virou Europa. Não parece mais a ilha cercada de mar e de Espanha por todos os lados. As pessoas são mais bonitas. Têm dinheiro. Consomem.
Ter sangue luso não é fácil. É uma mistura louca de timidez com arrogância. Luxúria com rigidez. Falta de finésse com ares aristocratas. Muita fofoca. Muita inveja. E preguiça. ( Se você tirar a timidez e a rigidez terá como resultado o brasileiro ). Cresci nesse ambiente lusitano. Ouvindo falar daquela terra de frio, de bruxas, de uvas e de azeitona. Acreditava que gabeta era gaveta e que libro era livro. Nosso feijão era a batata.
99% do tempo se falava de comida. A saudade era uma saudade da comida. O paladar era a língua do amor. Pouco olho e muita língua. Em casa se falava dos pratos, das frutas, da carne, nunca da paisagem de Portugal. A terra sempre foi, para mim, uma cozinha.
Então leio esse autor novo de lá, nascido em 1980, e descubro que nada mudou em Portugal. Eles continuam abraçados a esse realismo de pedra, realismo que vem desde Eça e que nunca dá trégua. O autor descreve a vida em 1982, a vida numa vila do Algarve, as pessoas, os cães e o tempo. E tudo é como sempre: sujeira, medo, fofoca, violência e frio. As pessoas exalam solidão e orgulho. O sexo ronda cada pensamento. E tudo é escuro, triste, úmido e distante. Familias que brigam, vizinhos que se matam, vilas que afundam na indiferença. Mais um livro com esse Portugal triste, pedregoso, barrento, fedido.
Como eu sei que ele não é apenas isso, é muito mais, me vem a sensação que boa parte da literatura lá feita tem o mesmo vicio daquela que aqui se faz, que seja: eles olham livros para escrever sobre a terra e descrevem a terra a partir dos livros. O Portugal aqui mostrado é tão real como é um texto de Graciliano ou de Jorge Amado. É verdade, mas é uma verdade, jamais a verdade.
Eu não acho que a literatura deva ter alguma obrigação em relação a verdade. A verdade se cria. A realidade se pensa. Mas este tipo de literatura, a velha escola realista, quer ser verdade. Quer exibir a verdade. E fica apenas assim....um arroto.
Ter sangue luso não é fácil. É uma mistura louca de timidez com arrogância. Luxúria com rigidez. Falta de finésse com ares aristocratas. Muita fofoca. Muita inveja. E preguiça. ( Se você tirar a timidez e a rigidez terá como resultado o brasileiro ). Cresci nesse ambiente lusitano. Ouvindo falar daquela terra de frio, de bruxas, de uvas e de azeitona. Acreditava que gabeta era gaveta e que libro era livro. Nosso feijão era a batata.
99% do tempo se falava de comida. A saudade era uma saudade da comida. O paladar era a língua do amor. Pouco olho e muita língua. Em casa se falava dos pratos, das frutas, da carne, nunca da paisagem de Portugal. A terra sempre foi, para mim, uma cozinha.
Então leio esse autor novo de lá, nascido em 1980, e descubro que nada mudou em Portugal. Eles continuam abraçados a esse realismo de pedra, realismo que vem desde Eça e que nunca dá trégua. O autor descreve a vida em 1982, a vida numa vila do Algarve, as pessoas, os cães e o tempo. E tudo é como sempre: sujeira, medo, fofoca, violência e frio. As pessoas exalam solidão e orgulho. O sexo ronda cada pensamento. E tudo é escuro, triste, úmido e distante. Familias que brigam, vizinhos que se matam, vilas que afundam na indiferença. Mais um livro com esse Portugal triste, pedregoso, barrento, fedido.
Como eu sei que ele não é apenas isso, é muito mais, me vem a sensação que boa parte da literatura lá feita tem o mesmo vicio daquela que aqui se faz, que seja: eles olham livros para escrever sobre a terra e descrevem a terra a partir dos livros. O Portugal aqui mostrado é tão real como é um texto de Graciliano ou de Jorge Amado. É verdade, mas é uma verdade, jamais a verdade.
Eu não acho que a literatura deva ter alguma obrigação em relação a verdade. A verdade se cria. A realidade se pensa. Mas este tipo de literatura, a velha escola realista, quer ser verdade. Quer exibir a verdade. E fica apenas assim....um arroto.