PRA PABLO

   "Tudo aquilo que conseguimos imaginar é real".
   Pablo é o antídoto para Schoppenhauer, para o pessimismo. Ele é vital.
   Pablo é solar. Ele vivia ao sol, torso nú, criando. Pegava pedra e fazia bicho. Pegava lixo e criava sonho. Mas tudo em Pablo é real. Nada nele parece etéreo. A criação mais absurda é de verdade. Tem peso. Pablo ama o peso, a solidez, a dureza do toque.
   Seu sexo é aquele do fauno. Meio deus e meio besta. Deitado ao sol, pelado, ele exala desejo. Ama a carne. O cheiro. É um touro.
   Nenhum artista é mais carnal que Pablo. E nenhum outro mergulhou mais fundo no onírico explícito. Ele viu que o sonho está no aparente. Aquilo que vemos é surreal. Ele pescava absurdos no comum.
   Pablo era também cruel, duro, egoísta, vaidoso, isolado e sedento de elogios. Vingativo. Ele era ruim. Maldoso como todo criador é. Criar é um ato de vingança contra o comum, o ordinário, o tédio, o banal. O objetivo pode ser bom, mas a energia é aquela do mal.
  Ninguém viveu tanto como Pablo.