SEMENTE DIGITAL

   O peixe sempre voltava. E vendo o peixe se renovar o homem começou a ver a vida como roda. O que vai volta. Mais: tudo brotava após o inverno. A vida nunca termina, ela renasce.
   O homem via a vida como a natureza lhe mostrava, ciclos. A semente nasce e renasce após morrer.
   Mas o homem criou a máquina e com ela tudo mudou. A vida passou a ser vista como a máquina lhe mostra. E a máquina trabalha, se desgasta e vira sucata. Daí o fim das religiões possíveis. A vida se torna um mecanismo que falha e vira pó. Máquina não se renova.
   E então vem mais uma etapa, a vida virtual, limpa, sem ruído. E qual reflexo esse mundo terá no modo como vemos tudo ninguém ainda pode saber. A informática não é natural e também não parece perecível como uma usina ou um trem. Tenho a sensação de que entraremos num mundo sem tempo, sem linearidade, em que tudo será agora sempre. E nisso nossa alma não será destruída como fizeram as máquinas e nem vista como semente. Será uma virtualidade. Nossos corpos como hardware e nossa alma sendo o software. Ou o contrário.
  A se ver.