CRÍTICA LITERÁRIA FREUDIANA, UMA AULA LINDA.

   Uma aula soberba sobre crítica literária. O professor, o mais enciclopédico possível, nos dá uma visão do modo psicanalítico de se analisar a literatura. Para tanto, ele nos traduz termos germânicos, conta fatos da vida de Freud, e exemplifica as interpretações que o homem de Viena dava a certos autores.
  A aula é fascinante e percebo, com alegria, que superei a muito essa visão empobrecedora freudiana. Sigmund foi um grande cara. Mas seus problemas emocionais ( uma resistência doentia em baixar a guarda e aceitar os limites da razão ), além de um narcisismo que via em todos um espelho de si-mesmo, fizeram de suas teorias uma espécie de consolo racional explicativo para todos aqueles que temem a vida. Ele dá farrapos de teorias jamais provadas, joga hipóteses maravilhosamente bem engendradas, pílulas de liberdade redutora para os que morrem de pavor do não-explicável.
  Fã extremado de Goethe, ele sonhava em ser o titã do século XX. E ao mesmo tempo invejava Goethe por ser tão "alemão". De tudo que o professor disse, destaco dois temas dentre vários.
  Freud achava que o impulso criativo nascia de um sofrimento. A dor fazia com que um homem criasse. Essa é uma visão assustadoramente não-imaginativa. Freud tinha uma bela imaginação, mas ele acreditava que sua imaginação era a verdade. Pensava então que esse mistério, a arte, era um tipo de compensação. Incrível ele ter escrito tamanha tolice. Existem artistas felizes assim como existem infelizes que trabalham em banco. Glamurizar a tristeza é jogo feito por todos, artistas ou não. Há artistas que são absolutamente livres, há pessoas reprimidas que não criam arte ou fantasias. Difícil comentar uma teoria tão pobre.
  Pior é a teoria do "medo de ser enterrado vivo". Essa neura, que atacou Poe, Kafka e Chopin, dá ao sofredor a obsessão de se imaginar enterrado e acordando no caixão. Um pavor imenso. Freud dizia que isso era o medo de voltar ao útero, o medo de estar vivo num buraco....como diria Francis: Well....
  Existe uma outra tentativa de explicação que conto aqui:
  O medo de ser enterrado vivo é, lógico, medo de ser colocado dentro da Terra. Paralisado num caixão, no escuro, você não pode fugir, está numa armadilha. Escuro é contrário a luz, luz é sinônimo de razão, estar no escuro, preso, é como perder sua luz e sua liberdade, ou seja, a razão. Medo que nasce em pessoas que não aceitam sua condição terrestre, essa neurose joga na mente da pessoa a surpresa de se ver como é: terrestre, limitado, preso na vida que nasce do chão, joguete nas mãos do destino, falível.
  Contrária da volta ao útero, essa fobia é medo do futuro e do presente, sentir-se preso a sua condição amarrada, no escuro dos instintos. Nada de mamãe. Nada de infância. O contrário disso.
  Quero deixar claro que o professor falou, e muito, sobre as teorias de Sigmund e não a criticou, a crítica é minha. A aula era sobre teoria freudiana e não sobre crítica à essa teoria.
  Ele nos falou ainda sobre um sonho de Da Vinci, em que através dele Freud chega a conclusão de que ele era gay. E também uma lembrança de Goethe, em que lendo esse texto Freud descobre ser Goethe muito amado pela mãe. O doutor se via quase como um deus. Descobrir tudo sobre alguém que você nunca viu, analisar uma personalidade inteira via um simples fragmento escrito ( Freud nunca leva em conta a mentira da criação ), é mais que uma análise, é um milagre! Da Vinci era um tipo de rival de Freud, um gênio que queria saber tudo, e o vienense o desqualifica numa visão preconceituosa. E Goethe era sua anima, ele luta para ver coincidências entre os dois.
  Muito divertida essa aula.
  PS: Dedico este texto a meu amigo Léo.