CONSERVADORISMO

   Entram dois garotos no meio da aula interrompendo. Fazem propaganda de seu partido. Vai ter mais uma eleição. Falam e a sala boceja. Se vão.
   O professor comenta. Conta que eles são uma bela amostra da morte da palavra. Tudo o que eles disseram é verdade. Tudo é bem dito e bem intencionado. E tudo é vazio. O que eles falaram poderia ser dito por qualquer um em qualquer lugar. Pior, o que eles falaram é exatamente o que ele, o professor, ouvia naquela mesma sala 30 anos atrás.
   Em seguida ele nos dá um texto de Kafka. São apenas vinte linhas. Nenhuma das palavras é elaborada. A sintaxe é banal e o texto pode ser lido por uma criança. Mas as palavras voltam, nesse texto, a fazer sentido. Elas produzem sentido. E o mais incrível, produzem dúvida e inquietação. Para um ideólogo, é um texto politico. Para um religioso, é um texto judaico. Para um poeta, é poesia. Para um filósofo, filosofia.
  A ladainha da TV, do jornal, do cinema, do livro, das artes perdeu o sentido. Falar de mais uma tragédia é falar sobre o nada. As palavras se gastaram, a imagem se escureceu. É preciso uma nova linguagem. Porque hoje tudo parece piada velha ou mais do mesmo de sempre.
  Salto então para o livro do conservador Gregory Wolfe. Um de seus gurus se chama Niemeyer. Professor do Maine. Antes um fato: esses conservadores foram relegados ao esquecimento pela era Reagan. Os conservadores de Reagan são do mesmo naipe que os esquerdistas. Percebem a pessoa como consumidora, como ser ideológico que pode ser moldado à uma ideia. Ambos olham o mundo como lugar para fazer e não lugar dado para se aprender ao observar. O verdadeiro conservador olha. Reagan modificava ao molde sua cabeça. O iluminismo criou a noção, falsa, de que pessoas e natureza devem se moldar a razão. Esquerda e direita, as duas acreditam nisso.
  O segredo é observar e ver o que é.