TERRA D'ÁGUA- GRAHAM SWIFT. UM DOS MAIORES LIVROS DOS ÚLTIMOS 40 ANOS.

   A invulgaridade do cenário: o leste da Inglaterra, uma região plana e alagadiça, esquecida por todos. Canais artificiais que tentam e nunca conseguem vencer as enchentes. Os personagens: um professor de história que luta com seus alunos. Ele tenta demonstrar a importância de se saber o passado. Os alunos não acreditam no futuro e por isso desconfiam do passado. A trama: o professor entra em crise e conta aos alunos a história de seus antepassados, das guerras mundiais, da revolução francesa, das enguias, da água. Mistura tudo: incesto, riqueza, cerveja, decadência, amores, estupros, doenças, muitas mortes. E o cenário, a natureza guiando a história sem que percebamos isso.
  Diante do mar, da lama e das enguias, o que é nossa história, essa dos livros: um nada arbitrário e inventado.
  Swift escreveu esta obra-prima em 1983, ganhou prêmios e se fez um dos grandes autores ingleses de sua geração ( nasceu em 1949 ). O domínio que ele tem da língua, da ação e das cenas é perfeito. O livro seduz e ao mesmo tempo incomoda. Swift crê no que narra, cria sem parar, observa o realismo, mas se torna quase fantástico. Fica no fio de uma lâmina, quase vê o inefável. Sua terra é aquela do que não se vê.
  Seria tudo invenção do professor...ou não....
  Na figura de um retardado mora toda a moral do livro. E um fracasso é seu ato de heroísmo. O que pode se deduzir é que Swift não crê na história, ele percebe que nada muda na verdade. Que toda revolução leva a mais do mesmo. O surgimento de um pai. De um novo rei. Do líder.
  Eis o mote de um grande livro.