INTUIÇÃO

   Um raciocínio apresenta começo meio e fim. Há todo um movimento linear, temporal, que leva o pensamento de um ponto A até um ponto B. Uma impressão vira uma certeza. Ou é descartada.
   Uma sensação também vive em um tempo linear. Ela nasce dentro de um estímulo. Uma visão, um som, uma lembrança. Daí a sensação cresce, se estica e dura. Até desaparecer. Após um dado tempo.
   A razão toma conhecimento dessa sensação e a aceita. Ou não. Teme a sensação e a apaga. Ou tenta. Ou deseja a esticar. Fazer com que ela dure mais tempo.
  A intuição não existe no tempo. Ela surge como afirmação já pronta. Ela não cresce, ela é. Ela não se faz numa construção progressiva. Está feita. Sem começo. A intuição surge adulta, como certeza. Ela é uma simpatia. Kant dizia que ela é a coisa a priori. O objeto já pronto antes de que o percebamos. Objeto como ente, seja sentimento ou coisa. Descartes classificava a intuição como verdade atemporal. E hoje se diz que é a capacidade de se estar dentro daquilo que se tem como objeto exterior. A intuição é ser aquilo que se intui: simpatia entre dois objetos distintos.
  Ou seja, além de negar o tempo, pois já vem pronta, uma intuição nega o espaço, pois dois se tornam um.
  Em mundo racional e positivista, a intuição se faz objeto de crítica da razão. Por estar fora de parâmetros, ela é vista como irracional. Em um mundo apressado e distraído, ela mal é percebida. A intuição passa a ser confundida com uma mera sensação passageira.
  A intuição é a visão da alma.