Charlotte, irmã mais velha da grande Emilly, criadora do monumento literário que é o Morro dos Ventos Uivantes, cria aqui um livro que mistura horror gótico e amor frustrado em doses iguais. Charlotte Bronte escreve melhor as cenas de medo, de mistério e de escuridão. Já quando nos mostra o modo como o amor se afirma ela é menos eficiente. Jane passa fome, trabalha, luta, foge e quase morre. As pericias são muitas, o livro é rico. Vitoriano em todo seu caráter, ele joga com valores morais, com dinheiro, familia e sociedade. E, claro, tem o lar como céu desejado por todos. No romance vitoriano a casa ocupa o centro. Veja que até o seculo dezoito a casa mal se descreve, é um nada sem muito valor. A trama ocorre em sociedade ou na natureza. No seculo dezenove, temos a casa como personagem central, ou sua ausência como dor maior. Jane Eyre tem toda sua dor e toda sua motivação nessa instituição, o paraíso da casa, o reino da privacidade.