CORONEL FAWCETT, A VERDADEIRA HISTÓRIA DO INDIANA JONES QUE SUMIU NO BRASIL- HERMES LEAL

   Vale muito a pena caçar este livro em sebos, na Estante Virtual, onde for. Ele é de 1997 e está totalmente esgotado. Não é bem escrito, a escrita é tipo jornal diário, apressada, mas o tema é tão fascinante, o personagem tão louco, raro, corajoso, complexo, que o livro se torna um prazer, uma fonte de aventura e um tema intrigante. Vamos lá...
   Percy Fawcett nasceu na Inglaterra em 1867. Cresceu portanto durante o reinado da rainha Vitória, o auge do mais poderoso império da história do planeta. Estudou, cresceu, se tornou coronel. Foi servir no Ceilão, e lá descobriu duas coisas: Seu amor pelas aventuras e sua queda pelo misticismo. Se tornou budista, um adepto da boa saúde e um explorador. Saindo do Ceilão, foi trabalhar na Bolivia, enviado para fazer a marcação definitiva entre as fronteiras. A coisa foi infernal!!! Impressionante o relato do que era aquela região no começo do século XX. Lama, fome, índios hostis, mata fechada, chuva, insetos. A expedição toda feita a pé e em canoas, meses sem comunicação, perdidos, reencontrados, perdidos de novo. É nessa selva que ele ouve falar de uma civilização perdida. A Atlântida, terra que existiria no Mato Grosso, Brasil. 
  Esse tema se torna uma febre mundial. Conan Doyle e R. Haggard, amigos de Fawcett, escrevem best sellers sobre o tema. Fawcett vai ao Brasil  e em 1920 parte rumo ao Mato Grosso. Ele tem a absoluta certeza de que vai encontrar um reino perdido. Devo contar mais? O que acontece? 
  Muita coisa acontece. Fawcett se perde no noroeste do estado. Essa expedição é um desastre. Entram em cena personagens como Rondon, os irmãos Villas-Boas, Chatô, Getúlio Vargas, e uma centena de caciques, tribos xavantes, kaiapós, todas perigosas, manhosas e quase desconhecidas. Para um brasileiro é tudo familiar. Na segunda expedição, cinco anos depois, ele penetra o Xingú, caminha rumo a Serra do Roncador. E desaparece. Para sempre. 
  O mundo cobria essa aventura. E com seu desaparecimento, provavelmente morto pelos índios, vem a parte mais doida do livro. Americanos, alemães, ingleses, todos vêm à procura de Fawcett. Encontrar o explorador se torna tema de jornais, o Times oferece um prêmio. E assim, pencas de lunáticos desaparecem no Mato Grosso, na Amazônia, em Goiás. São relatos fascinantes de um tempo em que o mundo ( 1930 ) ainda tinha lugares completamente secretos, nunca vistos, vastos pontos em branco nos mapas. 
  Mas o Brasil não era assim e esse foi o grande erro de Fawcett. Ao contrário do Peru e da Bolivia, que tinham imensos territórios realmente virgens, Rondon e o exército brasileiro já tinham mapeado todo o Mato Grosso, Goiás...Apenas a Amazônia era intocada, mesmo assim, apenas nas beiradas, o ciclo da borracha a havia desvirginado. 
  Isso é o que dá um ar de patética tragédia a tudo. Fawcett procurava as ruínas secretas pensando sempre estar pisando onde nunca homem algum pisou, e lá no fim do mundo, após meses de caminhada, fome, dor e medo, o que ele achava? Uma linha de telégrafo, uma fazenda, sinais de civilização. Na ansiedade por achar a cidade perdida, ele entra onde nunca poderia ter entrado, no Xingú, e desaparece. Não vamos esquecer que Machu Pichu foi encontrado somente nos anos vinte. Mas no Peru, no meio dos Andes, em um lugar realmente inexplorado. Em Mato Grosso, e Rondon o avisou, nada apontava a existência de ruínas. Mas Fawcett acreditava em todos os boatos, nas histórias dos peões, nos mitos dos índios.
  Já ao final, em 1995, há uma super expedição para se tentar encontrar rastros de Fawcett. O que acham? Nada. São roubados pelos índios do Xingú, que lhes tomam barcos, carros e equipamento de video. Se voce quer perder todo o romantismo pelos nossos índios, leia este livro. Ele não é contra o índio, apenas não o idealiza.
  Fawcett sumiu com um filho de 26 anos e um amigo do filho, de 24. Nunca mais se soube nada. E este livro, com fotos, é um belo testemunho.
  PS: Ah sim, Spielberg conheceu a história de Fawcett, ainda moleque. Indy é um tipo de irmão mais novo do inglês.