Existem músicos que procuram a perfeição através da tapeçaria. Eles acumulam notas e escrevem um tipo de painel sonoro onde montes de informações se acumulam. Outros fazem o oposto. Pegam apenas uma linha, e com ela procuram o máximo de perfeição. Esticam essa linha, arrebentam o fio, ameaçam um nó, tingem, escondem, fazem mágica com uma simples linha. Monk era o gênio da linha.
Vi ontem um doc sobre ele na TV. Estranha figura quase muda. Um baterista diz que foi o visitar. Ficaram oito horas na sala, juntos, sós. E Monk nada disse por sete horas e 59 minutos. Na hora de sair disse, OK, Nos vemos amanhã.
O mestre Zen ensina sem o uso de palavras.
Um outro excursionou com ela por 4 meses. Monk nunca lhe falou uma só palavra. No último show ele disse: Nos vemos na próxima.
O som de Monk é assim. Apenas o núcleo. Sem enfeite. A linha, pura e simples. O silêncio sempre presente.
Durante o documentário lembrei de Keith Richards. Monk faz uns movimentos ao piano que são idênticos aos movimentos absurdos e aparentemente gratuitos que Keith faz à guitarra. Trejeitos de ombros, batidas de pé, mãos que flutuam, dedos duros e lentos que tocam, quase quedas ao chão. Voce acha que eu forcei a comparação? Voce conhece um guitarrista mais simples e cheio de silêncios entre os riffs que Keith?
Monk nunca mudou. Ao contrário de Miles, Dizzy, Sonny ou Lester, ele nunca tocou bossa-nova. Ou se eletrificou. Ou ficou mais funk. Adicionou violinos. Nada disso. Monk era sempre Monk. E em 1967 parou. Sem anunciar, ele simplesmente saiu de cena. Calou o piano.
Viveu ainda até 1982. Poderia ter gravado mais uns vinte discos. Ter feito centenas de shows. Sido homenageado. Não.
Dizem que todo sábio tem a clarividência de saber falar o Não. E eu sei que parece hoje banal dizer isso, mas Thelonious Monk foi um sábio. Um gênio. E um ET.
Sábio porque nada do que ele fez foi demais. E isso é muito raro em música. Todo mestre musical tendeu a fazer à mais. A não silenciar na hora exata.
Gênio porque ele trouxe algo de onde não se anunciava nada. O estilo de Monk pode ser percebido levemente em Basie e em Duke ao piano. Mas ele foi completamente inédito. E desde então inimitável.
E um ET porque ele criou seu mundo e sua lingua. E nesse mundo apenas uma pessoa podia viver. Ele. Todo gênio é um individualista radical. E portanto um solitário abissal. Na vida de Monk só Monk vivia.
Entre as notas há o silêncio. E esse é seu segredo. O vazio entre as notas. A suspensão do ritmo. Os furos. A linha que deixa de ser vista e retorna outra e a mesma.
Thelonious é inesgotável.
Vi ontem um doc sobre ele na TV. Estranha figura quase muda. Um baterista diz que foi o visitar. Ficaram oito horas na sala, juntos, sós. E Monk nada disse por sete horas e 59 minutos. Na hora de sair disse, OK, Nos vemos amanhã.
O mestre Zen ensina sem o uso de palavras.
Um outro excursionou com ela por 4 meses. Monk nunca lhe falou uma só palavra. No último show ele disse: Nos vemos na próxima.
O som de Monk é assim. Apenas o núcleo. Sem enfeite. A linha, pura e simples. O silêncio sempre presente.
Durante o documentário lembrei de Keith Richards. Monk faz uns movimentos ao piano que são idênticos aos movimentos absurdos e aparentemente gratuitos que Keith faz à guitarra. Trejeitos de ombros, batidas de pé, mãos que flutuam, dedos duros e lentos que tocam, quase quedas ao chão. Voce acha que eu forcei a comparação? Voce conhece um guitarrista mais simples e cheio de silêncios entre os riffs que Keith?
Monk nunca mudou. Ao contrário de Miles, Dizzy, Sonny ou Lester, ele nunca tocou bossa-nova. Ou se eletrificou. Ou ficou mais funk. Adicionou violinos. Nada disso. Monk era sempre Monk. E em 1967 parou. Sem anunciar, ele simplesmente saiu de cena. Calou o piano.
Viveu ainda até 1982. Poderia ter gravado mais uns vinte discos. Ter feito centenas de shows. Sido homenageado. Não.
Dizem que todo sábio tem a clarividência de saber falar o Não. E eu sei que parece hoje banal dizer isso, mas Thelonious Monk foi um sábio. Um gênio. E um ET.
Sábio porque nada do que ele fez foi demais. E isso é muito raro em música. Todo mestre musical tendeu a fazer à mais. A não silenciar na hora exata.
Gênio porque ele trouxe algo de onde não se anunciava nada. O estilo de Monk pode ser percebido levemente em Basie e em Duke ao piano. Mas ele foi completamente inédito. E desde então inimitável.
E um ET porque ele criou seu mundo e sua lingua. E nesse mundo apenas uma pessoa podia viver. Ele. Todo gênio é um individualista radical. E portanto um solitário abissal. Na vida de Monk só Monk vivia.
Entre as notas há o silêncio. E esse é seu segredo. O vazio entre as notas. A suspensão do ritmo. Os furos. A linha que deixa de ser vista e retorna outra e a mesma.
Thelonious é inesgotável.