JOVEM.

   Ser jovem é uma convulsão. É estar perto da morte todo o tempo e mesmo assim ou por isso mesmo ser mais vivo que a vida. Mais que a vida porque se a vida é em sua maior parte envelhecimento e decadência, ser jovem é o escândalo da super vida!
  Nietzsche estava errado! Não foi o cristianismo que nos fez fracos, é a idade que nos esmaga e vence nossa verdadeira força. Nosso apogeu dura apenas dez anos... A vida plena dos ossos, que se quebram e se refazem sem que percebamos. A elasticidade da pele, protegendo mais que o corpo, embalando os sonhos. Porque jovens tudo é sonho, mesmo que pensemos na dor. A vida é então feita de saltos, assaltos, piruetas e trombetas que anunciam: Sou vivo!
  Convulsionado as dores se vão, convulsionado o amor chega, em convulsões ele morre. Tudo é grito e a dança do sangue que exige jorrar. Suor nos porões onde o sal escorre pelas paredes, risos nos quartos em que cada palavra é uma piada. O raio do sol bate na pele que acasala com ele. A onda do mar abraça a pele que envolve ela. Leve. A juventude é leve, a leve doçura do compromisso que é para sempre e sempre acaba. E volta. Porque um ano para um jovem cérebro é toda uma vida. 
  Eu me intoxicava em convulsões mortíferas que me fizeram viver. Nas cavalgadas da guitarra-potro-escoiceante. Nas mordeduras da bateria tesoura. Nos vulcânicos dotes do baixo fervido. As convulsões vivas da alma que está prestes a se jogar. Aceitar a vida. Começar a partir. 
  Ser jovem é a maior das felicidades.