LET`S STICK TOGETHER- BRYAN FERRY. PORQUE O AMOR PODE SER UMA QUESTÃO GLAMUROSA.

   Então em 1976 nada em Londres era mais chique que gostar de Mr. Ferry. Ele vendia discos, vendia shows, fazia cinema e estava sempre na TV.  Nessa ego trip ele deu um chute no Roxy e começou a namorar a mais famosa modelo do mundo, Jerry Hall ( que está no clip abaixo ). Desde 1973 Bryan lançava discos solo. Mas nesse verão de sua ego trip ele solta este disco. Uma coleção de 11 músicas. Seis são covers, e elas vão de Beatles à Louis Armstrong. As outras cinco são releituras de faixas gravadas com o Roxy Music. Três do primeiro disco, uma do quarto e outra do segundo. Para o acompanhar ele chamou Chris Spedding, John Wetton, Mel Collins. A carreira solo de Ferry sempre foi marcada por uma excelência em som, em timbre, por um aveludamento sonoro, uma suavização daquilo que ainda pode ser chamado de rock, mas que na verdade sempre foi simplesmente canção. Elvis Presley é o ídolo branco de Bryan, o Elvis pós 1960, e Otis Redding o ídolo negro, o Otis de sempre. 
  Let`s Stick Together abre o disco e foi um single de sucesso na Inglaterra. ( Só na Europa Ferry vendia então. A coisa não mudou muito em 40 anos ). Sacolejante, irônica, é uma alegria. Casanova está irreconhecível. Apocaliptica com o Roxy, aqui ela é noturna, suavemente safada. Sexy ao extremo. Sea Breezes é um lamento. O espírito é o mesmo da banda antiga, mas aqui ele está mais seguro. Shame é cover de um blues dos bons. Ferry faz dela um Pop acaipirado, alegre, esfuziante. 
  Os deuses olímpicos se aquietam e Vênus sorri quando 2HB começa a tocar. É uma das mais belas coisas da história da música do ocidente. HB significa Humphrey Bogart, a canção homenageia Bogey, To HB portanto. Mas pode ser To Heartbroken. Ela decola, ela é linda, inesquecível. A melodia sobe da voz e do teclado e voa, rodopia, gira colorida, melancólica, sagrada e diáfana. Ferry atinge um dos seus pontos alfa. A versão original, de 1972, com o Roxy, é tão boa quanto, mas esta...
   The Price of Love é puro Pop feliz. Riff de guitarra vibrante, forte. Chance Meeting é uma das mais tristes canções do Roxy. Esta versão tem mais equilíbrio, menos dor, a beleza se mantém. Ela me recorda todos os meus amores. Os antecipou desde 1976. Os anuncia hoje. 
   It`s Only Love é dos Beatles. Ele faz dela uma canção de Brian Wilson. Leva-a à Califórnia. You Go To My Head é luxuosa. De certo modo ela dá a dica do que Bryan faria na meia idade. Sinuosa. ReMMake, ReModel foi a primeira faixa do primeiro disco do Roxy. Ela era barulhente e bastante desenfreada. Aqui ele cortou as arestas e a deixou redonda. Ainda desafiadora, só que dançante, aveludada, líquida. 
   Por fim Heart on My Sleeve. Simples como o amor. Singela. E nunca tola. O amor para Ferry é simples. é básico, singelo, porém nunca silly. 
   Neste momento de amor, voltar a este disco, trilha dela, da amada, é um ato de amor.