DE AMOR E DE AMAR

   Nunca e pudor em assumir um amor.
   Numa mesa de bar, ontem, eu conversava com alguns amigos e descobria que quase nenhum deles tem ou teve ídolos. Acho isso triste. Pior, pobre. Ter ídolos nos ensina a amar com paixão e assumir esses heróis nos tira, pra sempre, a vergonha de se apaixonar.
   Um cara se apaixona muitas vezes na vida. Umas paixões podem ser maiores, algumas duram mais, mas todas são de verdade. Não existe falsa paixão, assuma, mesmo o amor que voce sentiu por aquela menina burrinha e magrela em 1979 era real. E merece a nobre reverência da memória. 
  Estou misturando amor e paixão. Começo a perceber que ao separar uma da outra estamos diminuindo uma delas. As duas são alma e as duas são corpo. A diferença está apenas na cabeça. Nosso espírito voa, seja amor, seja paixão. São a mesma coisa. Pois amor sem sexo se chama amizade e a amizade eu chamo de amizade. Amor é paixão.
  Desde que me conheço eu caço. Vou atrás do amor e não consigo ser minimamente feliz sem ele. Pode ser com uma menina de 20 anos, uma mulher no auge dos 35. Pode ser platônico, tolo, ilusório, vaidoso, egocêntrico, generoso. Pode ser com poesia ou com raiva. O amor está sempre em minha mira. Eu o procuro. Necessito.
  E desde o momento em que nasci o assumi. Amava com ansiedade, com o coração aos pulos, com insônia, com febre e com alegria de explodir. Amava meus bichos, minhas trilhas, meus pais. Amava a escola, amava os Monkees, amava meu melhor amigo. Amava a loirinha com quem nunca falei, e a professora que imaginava nua. Aos 7 anos amava certos filmes de pirata, de guerra, de monstros. Amava meus brinquedos. Eu sentia o amor com a força que sinto hoje e o assumia, deixava ele crescer em mim, cultivava.
  Sim, isso me fez sofrer muito, chorar demais. Mas nada me define melhor que essa disposição para a paixão, para o grande coração. É o meu melhor e sem dúvida é meu pior. 
  O amor me toma de novo. E nunca importa muito por quem. Sério! Pois amor, quando vem, provocado por eu-mesmo e por quem me enfeitiça, envolve o mundo em seda. Amo aquela que me dá felicidade, e esse amor tinge de amabilidade e de cor tudo o que vejo e ouço.
  Amar é bom. E bom é o amor.