UMA PRECE TARDIA POR SUNI, O RINOCERONTE BRANCO.

Suni.
Voce morreu e sinto que Deus morreu mais um pouco junto a voce. Sinto que a vida ficou menor. Porque quando uma espécie se vai a vida se vai. Tudo fica mais sem motivo. 
Uma espécie deixa de existir e o palco deste drama diminui. A uniformidade aumenta, a diversidade encolhe. Um rinoceronte branco, personagem que aqui estava desde sempre. Que sobreviveu a romanos, gregos e nazistas. A secas, terremotos e vulcões. Mas não consegue resistir a nosso progresso. A nossa maldita cobiça. E leva com ele um testemunho. Uma presença.
O planeta perde mais uma voz, um rastro e um cheiro. Suni cai. Morto em sua terra. E sua terra cai com ele, deixa de ser terra e passa a ser vazio. O eco de sua morte roda mundo e invade meu espaço. Que seca.
Suni nada entendeu dessas mudanças. Não entendeu porque ele estava no centro delas. Porque a Terra é de Suni. E nunca nossa. Nós aqui estamos para cuidar de Suni.
E falhamos.
Mais uma espécie se vai. E para sempre vira lenda. E lenda é saudade para sempre. É ausência que não pode ser preenchida. Desconsolo.
Suni... Nunca mais.