THE BREEZE, AN APPRECIATION OF J.J. CALE...ERIC CLAPTON AND FRIENDS.

   Na classificação de Ezra Pound, Eric Clapton seria um mestre e não um criador. Ao contrário de Jeff Beck e Jimmy Page, Eric nunca se preocupou em criar, seu negócio foi aprender, superar e divulgar seus ídolos. Aqui ele paga tributo a um dos maiores, o certeiro JJ Cale, um rei da guitarra econômica.
   Eric veio de toda aquela coisa blue. Ele, Peter Green, Mick Taylor, Jeff e Jimmy, Keith, Pete. Todos branquelos sonhando com o Mississipi e New Orleans. O Cream era a amplificação dessa vertente. Robbie Robertson desviou o rumo de Eric. Quando ele ouviu The Band sua vida mudou. A guitarra passou a ser mais refinada, sutil. Numa entrevista ele conta: Meu objetivo não é ser o mais rápido. É conseguir tocar uma só nota. A nota perfeita. A segunda mudança de Eric foi a descoberta da voz e da canção, isso via Stevie Wonder. Foi então que a presença de JJ Cale se tornou mais forte. Stevie Wonder trouxe voz e inspiração, JJ trouxe estilo, solos, climas. Essa sopa deu em Eric solo. 
   JJ Cale morreu em 2013. Pouco antes ele e Eric haviam gravado seu primeiro disco em dupla. Uma obra-prima de amizade, de troca, de rock`n`roll. Agora em 2014 Eric lança este cd só com músicas de Cale. São 16 faixas curtas com a participação de Tom Petty, Mark Knopfler, John Mayer e Willie Nelson. Nada disso, não é um desses impessoais discos de homenagens. A coisa aqui é intimista, discreta, como foi JJ Cale. O cd é obrigatório. 
  Raras vezes Clapton tocou tão bem. E impressiona o modo como todos cantam com a voz à JJ Cale. Até a voz de Tom Petty fica rouca como a do grande músico da Flórida. Guitarras dialogam com brilho, naquele estilo agudo, cigano que JJ popularizou. Disco feliz, disco que comprei hoje e que escutarei pelo verão afora. 
  Para quem não conhece, JJ Cale foi um cara influente que jamais estourou. De 1967 a 2013 foi uma longa e discreta carreira. Gravou bastante e esse seu estilo é discreto, simples, sinuoso, sofisticado e delicado. Sem jamais deixar de parecer viril. JJ Cale fazia música de homem, e sempre com ternura. Voz rouca e grave, seus discos exalam calor. O som de Cale é tropical, chuvoso. Ele combina com praia, estrada, carros grandes e camisas havaianas. E com uma noite de mojitos, de varanda com charuto, com lembranças. É sexy sem jamais ser exibido. Discreto sempre.
  Acho que ele teve uma boa vida. Encontrou um estilo único e o desenvolveu ao limite. Não procure nele a inquietação de Kevin Ayers por exemplo. JJ é o mestre que trabalha sobre seu molde. Perfeccionista. 
  Pena que nunca mais haverá um novo disco dele.