ELEIÇÕES E O CARÁTER DE UM PAÍS ( NÃO DE UMA NATUREZA )

Brasileiros são profundamente conservadores. Conservadores não por convicção, por medo. Dependesse de nós todo presidente seria reeleito vinte vezes. Às vezes queremos alguma mudança. Nossa tragédia é esperar que uma mudança possa acontecer sem que se mude nenhuma peça. Ao contrário do ditado, doamos os dedos e nunca o anel. Temos uma vocação para a monarquia. Pedro II é nossa saudade. Um tio benevolente. Essa coisa chamada democracia não nos interessa e alternância de poder nos apavora. 
É tudo tão feio neste país. É tudo tão lindo nesta natureza brasileira. Temos batalhado arduamente para destruir todo traço de beleza. Nós não damos grande valor a estética. Em tudo o que fazemos a beleza ocupa um espaço minúsculo. Não há no mundo país mais ao contrário de nós que o Japão. Somos o inverso radical de tudo o que os japoneses são.
Dilma terá mais 4 anos e depois mais 8 de Lula. E assim iremos nos conformar a nosso destino. Súditos. Tédio tropical vira indiferença. Dilma ou Marina, Aécio ou Luciana, que muda?
Vejo meus alunos. Eles não querem mudar. Têm 13 anos e moram em favelas. E mesmo assim nada querem de diferente. Sonhos? Sim, sonham em ter mais dinheiro. Mas nunca em mudar de vida. Para eles o mundo se resume a churrasco e baile funk. O dinheiro que desejam é para mais do mesmo. Mudar o que?
O rei deles é o rei do tráfico. O rei do futebol. A rainha da bunda grande. 
Talvez eles sejam sábios. Tenham descoberto, como os seguidores de Brahma, que a vida é uma ilusão e que nada muda a não ser mais ilusões.
Isso tudo se confirma com a vitória de Geraldo também. O estado está um lixo mas o medo é maior. Então, como sempre, vamos reeleger o bacana e esperar sentados que ele mude. Presos na lógica covarde do súdito e do rei.
Longe da Inglaterra.
Ontem no Estadão. Linda matéria dos Reali sobre a região da Cornualha. É o lugar do mundo que eu mais queria ir. Região isolada, oeste, verde e pedras, neblina e frio, mar e penhasco. Conan Doyle, Virginia Wolff, Tolkien, Agatha Christie, todos se inspiraram pelo lugar. Restos do castelo de Arthur. Cova de Merlin. 
Geografia é destino? Os restos de nossas senzalas, as casas grandes, os pelourinhos, as trilhas dos bandeirantes...mosquitos, barulho de macacos, mata cerrada, umidade. Cidades sujas, nervosas, mal desenhadas, feias, feias, feias, feias...
E a praia, linda, longa, sem fim. Praia a nos convidar, a dizer sedutora: Deixa pra lá...deixa estar...deixa ficar...
A Inglaterra é um convite a introspecção. Portugal chama preguiça. A Itália exala vaidade. Os EUA clamam o grito e o eco do poder. E o Brasil canta malemolente: deixa pra lá...deixa estar...deixa ficar...