Um ator tem um branco no palco. Casado, pai de uma menina esquizo, ele vai passar um tempo na velha casa onde cresceu. Lá ele vê fantasmas, discute com a esposa que o visita e trava contatos, indesejados, com pai e filha do lugar. Esse o enredo deste livro do irlandês John Banville, ganhador do Booker Prize com O Mar e um dos melhores autores vivos. Ele tem um dom raro nos autores atuais, a escrita plástica. Como um Henry James mais quente e menos detalhista, ele sabe como descrever uma cor, um brilho, uma variação de clima. Esses os principais personagens, a praia, a praça, a casa, imensa, e as cores cambiantes do mundo. Repare quantas vezes ele fala de brilhos, de vento, de cor. O livro assim se torna colorido, vivo, uma fotografia animada, sentimos gostos, cheiros e mergulhamos dentro de Alex, o ator perdido.
Alex é um pavão. Ele tem uma vaidade que chega a beira do repulsivo. O tempo todo, e ele sabe disso, ele se observa. Tudo é palco e todos são seus coadjuvantes. E mesmo assim Alex é um personagem cativante. O leitor gosta dele, se interessa pelo que ele pensa e sente. Sem jamais tentar ser simpático, e sem fazer nada de interessante, a não ser ver dois ou três fantasmas, Alex segura e ergue o livro com galhardia de herói e visões de poeta. É um romance profundamente poético, aberto a vida. sensível sem ser meloso ou pomposo. Banville tem vocabulário. Tem ritmo. Tem olho e ouvido. Sua escrita é um banquete de simplicidade sofisticada.
Alguns trechos são de tristeza perigosa. Pantanosa. E de repente Alex pensa algo que ilumina o porão, seca o pântano e sorrimos. Deprimido? Sim, Alex está deprimido, mas essa melancolia não lhe tira a inteligência. Ele ainda vê a vida em cor e cheiro. A surpresa que o final lhe reserva, surpresa não surpreendente, antes indecente em sua crueldade, o derruba completamente, mas não o destrói. Alex vê coisas. Isso o salvará.
Há livros que intuimos serem para nós. Os lemos, sem ninguém nos indicar, no exato momento em que devemos lê-los. É o caso. Me pego muito identificado com Alex. Em seu passado de criança e em seu modo de ver o mundo. Conheço sua tristeza, seu medo, mas nunca vi um fantasma. Sei até o que é desabar num palco, sentir que se está nú na frente de estranhos. Uma mãe que é viciada em sofrimento e um pai que se esconde. Eu sei o que é tudo isso. E o livro cai em minhas mãos num momento desses, em que sentimos que algo vai acontecer. Nascer. Mudar. Irromper.
Bom poder dizer que se o cinema acabou, a pintura morreu e o rock virou uma farsa, a literatura está firme e forte, inteira, pronta para mais um século de espetáculo e de intimismo. Vale!
Alex é um pavão. Ele tem uma vaidade que chega a beira do repulsivo. O tempo todo, e ele sabe disso, ele se observa. Tudo é palco e todos são seus coadjuvantes. E mesmo assim Alex é um personagem cativante. O leitor gosta dele, se interessa pelo que ele pensa e sente. Sem jamais tentar ser simpático, e sem fazer nada de interessante, a não ser ver dois ou três fantasmas, Alex segura e ergue o livro com galhardia de herói e visões de poeta. É um romance profundamente poético, aberto a vida. sensível sem ser meloso ou pomposo. Banville tem vocabulário. Tem ritmo. Tem olho e ouvido. Sua escrita é um banquete de simplicidade sofisticada.
Alguns trechos são de tristeza perigosa. Pantanosa. E de repente Alex pensa algo que ilumina o porão, seca o pântano e sorrimos. Deprimido? Sim, Alex está deprimido, mas essa melancolia não lhe tira a inteligência. Ele ainda vê a vida em cor e cheiro. A surpresa que o final lhe reserva, surpresa não surpreendente, antes indecente em sua crueldade, o derruba completamente, mas não o destrói. Alex vê coisas. Isso o salvará.
Há livros que intuimos serem para nós. Os lemos, sem ninguém nos indicar, no exato momento em que devemos lê-los. É o caso. Me pego muito identificado com Alex. Em seu passado de criança e em seu modo de ver o mundo. Conheço sua tristeza, seu medo, mas nunca vi um fantasma. Sei até o que é desabar num palco, sentir que se está nú na frente de estranhos. Uma mãe que é viciada em sofrimento e um pai que se esconde. Eu sei o que é tudo isso. E o livro cai em minhas mãos num momento desses, em que sentimos que algo vai acontecer. Nascer. Mudar. Irromper.
Bom poder dizer que se o cinema acabou, a pintura morreu e o rock virou uma farsa, a literatura está firme e forte, inteira, pronta para mais um século de espetáculo e de intimismo. Vale!