HAPPY BIRTHDAY KEVIN AYERS !

   A primeira vez que encontrei Kevin foi em Ibiza. Era 2008 e ele estava ao meio-dia tomando seu breakfast de frente para a praia. Me sentei numa mesa próxima e notei que apesar das décadas de álcool,  Mr.Ayers ainda tinha mantido sua elegância blasé. Estava com uma camisa de seda creme aberta até o meio da barriga. A calça era azul clara e usava chinelos nos pés. Os cabelos estavam uma bagunça e disfarçava os olhos cansados com óculos escuros. Tomava um café e conversava com duas meninas espanholas. Sua linda filha, Galen, estava trazendo um jornal. Sentou com o pai que sorriu. As espanholas se foram e pai mais filha ficaram relaxados, deixando o café esfriar. Um garçon, que parecia conhecer os dois, veio com uma garrafa de água mineral gelada. Galen se serviu de um copo com limão. Kevin acendeu um cigarro.
  Eu pedi um capuccino e um croissant. Tentava disfarçar minha emoção. Então Kevin Ayers existia. Vendo Kevin eu via Nico, Eno, Wyatt, Burroughs, Daevie Allen, Nicolas Roeg, Oldfield, eu via Barrett, via a Ibiza de 1960, ilha para poucos, e podia ver também a Canterbury do pós-guerra, jovens maconheiros ouvindo jazz e folk e logo querendo fazer da Europa uma trilha beat.
  Kevin era low-profile. Sempre foi. Calmo, meio zonzo, elegante e muito dúbio. Jamais diria que ele merecia ser mais famoso. Ele não quis. Fez uma carreira longe do centro, longe de Los Angeles, de NY e de Londres. Seu centro foi outro: cafés em Paris, estradas na Holanda e o porto final: Ibiza.
  Confesso que me faltou coragem. Não me aproximei de Kevin Ayers. Pedi ao garçon uma banana. Ele a trouxe num prato, coberta de mel. Quando a peguei com a mão e comecei a morder percebi, ou será fantasia minha?, Kevin Ayers olhar para mim e rir. Deixei a fruta cair no chão. Ela caiu rolando pelo meu colo, manchando minhas calças brancas bem passadas. Inapropriadas. O garçon veio com um guardanapo e água. Quando ergui os olhos Kevin e Galen já haviam partido.
  No mar barcos passavam.
  Hoje, 16 de agosto Kevin faria 70 anos. Por ser Kevin ele preferiu ficar, para sempre, no 69.
  Ibiza sente a falta dele. Seus amigos, músicos, mecânicos, pintores e vagabundos bebe hoje por ele.
  Salud!!!!