DANIEL DERONDA, UM ROMANCE DE GEORGE ELIOT

   George Eliot foi uma pioneira. Mulher escritora, vivendo na Inglaterra dos anos dos 1870, casou, descasou, foi morar junto. E sempre com homens mais jovens. Usou esse nome masculino, mas todos sabiam que era uma mulher quem escrevia. Ficou famosa, vendeu muito, e saiu de moda no começo do século XX. Mas agora é reabilitada. Como aconteceu com Jane Austen, seus romances são reavaliados e agora ela é considerada no mundo de língua inglesa um dos pilares da escrita moderna. Qual seu segredo?
   Ela tem o absorvente estilo do romance vitoriano, personagens críveis em cenários interessantes. Como em Jane Austen, tudo gira ao redor das relações de casamento, namoro e familia, mas isso é só a aparência. Austen mostra sutilmente que o dinheiro dirige o coração e George Eliot além disso coloca algo mais, o desconforto de não ser dono da própria vida. Há algo de muito inquietante aqui, as personagens, todas, vivem numa redoma de solidão. Basta ver: Daniel se sente mal em seu meio social e familiar, Gwen não se sente bem com homens e desconhece o amor, Mirah sofre a dor de ser segregada. Eliot toca em assuntos não tão comuns em seu tempo, preconceito religioso, desejo sexual e opressão feminina. 
   Ocasionalmente o romance periga desabar na doçura exagerada, mas ela consegue bravamente fugir disso e voltar a descrição da psicologia dos seus tipos, ao aprofundamento de suas intenções e de seus medos. Eles pensam e pensam muito. E erram por pensar sem saber. 
   São belas 600 páginas que nos levam ao centro de consciências românticas. George Eliot, ao contrário de Austen, não viveu num mundo romântico. Seus livros saem 50 anos após a onda que levou a Europa ao inferno e ao céu. Mas há uma herança romântica em seu livro. É como se todos fossem românticos, mas já vivendo em um mundo tragado pela técnica e pelo interesse. Todos eles nasceram já derrotados.
   George Eliot não. Ela venceu.