JULIE CHRISTIE NÃO NASCEU NA INGLATERRA ( MAS SIM )

   Sol de maio em Londres e times jogam sobre a grama verde escura. Recordo então de um Escócia e Inglaterra em Wembley. Era 1977 e eu amava Julie Christie. É isso mesmo. Há uma fase em nossa vida, cheia de frescor e de fé nos sentimentos, em que não os dissecamos, simplesmente os aceitamos, em que sentir amor por uma ideia de mulher, por uma imagem, se faz ato de completa dedicação. Eu amava Julie porque imaginava quem ela era. Criava a saga de sua vida e sentia que ela era feita pra mim. Idolatria. Beleza.
  Hoje vejo que uma alma abençoada fez a mistura perfeita. Colocou no Tube imagens de Julie ao som do Roxy Music. Os dois nasceram um para o outro, Gim e vermute. Julie sendo Gim, ácida e forte, linda, e o Roxy é vermute, enganosamente doce, colorido e inebriante. 
  Sol de maio em 1977. Wimbledon com Connors e Borg. A rainha era a mesma. Penso que a Inglaterra seja o país que deu certo. Desde Charles I não sabe o que seja ditadura. Conseguiu fazer do mais indisciplinado dos povos um modelo de educação. Discrição. A França cometeu o erro de criar a coisa chamada intelectual ativo, aquela falsidade que nos deu Sartre e Lacan, a Alemanha sempre sofreu de um excesso de idealismo fanático, e a Itália é um país que não se acha. A Inglaterra é uma nação que chegou lá. E um passeio pelo Hyde Park irá te mostrar isso. Conseguiram unir o conservadorismo da rainha e do costume com o deslumbre pelo novo e pelo hype. 
  Juntaram Roxy com Julie. 
  E após as brumas de invernos que nunca terminam, sabem fazer piqueniques ao sol de maio.