Pessoas viajam num trem. Uma delas começa a perder o controle. Depois que os outros descem, ela conta sua história. É um assassino. Matou sua esposa e foi absolvido. A novela é terrível !
Terrível porque entramos na cabeça de um sofredor, sofredor nada simpático, uma pessoa que nos repugna. Mas o mais chocante é sua clareza, sua inteligência. Ele conta seu modo de ver a vida, o modo certo. O amor não existe, ele é apenas sexo. As pessoas fingem não perceber, mas todo mundo está o tempo todo flertando. Os homens agem como libertinos e as mulheres como putas. A vida se transformou num bordel, mas é ainda pior. O sexo é sempre ruim, e todos fingem que é o máximo. Sexo se tornou uma obrigação, uma conta a ser paga. Pessoas virgens têm vergonha de serem puras, o que é um absurdo! A pureza é que pode conhecer o amor, a partir do momento em que voce conhece o sexo, o amor se torna impossível.
E o assassino vai nesse ritmo, coerente apesar de chocante, corajoso. E o leitor quase entra nessa armadilha, quase lhe dá razão. Mas...Segue-se a descrição do crime, o inferno no casamento, o ciúmes que ele sentia, os filhos...E voce percebe então que o que Tolstoi está demonstrando não é o erro do século em matéria de materialismo, não é o tédio e o ódio entre casais, mas sim o modo engenhoso como nossa mente cria toda uma filosofia, todo um emaranhado de sutis razões para justificar um crime. Tudo aquilo que ele expôs, toda aquela maneira de ver as relações, nada mais é que um modo de se justificar perante nós e perante si-mesmo. Percebemos que assim funciona o mundo. O que antes era errado se torna o certo, o mal vira bem, o bem se faz um mal, tudo de acordo com o interesse do momento, e esse interesse é a absolvição de um ato violento, de um crime.
Desagradável. E soberbo.
Terrível porque entramos na cabeça de um sofredor, sofredor nada simpático, uma pessoa que nos repugna. Mas o mais chocante é sua clareza, sua inteligência. Ele conta seu modo de ver a vida, o modo certo. O amor não existe, ele é apenas sexo. As pessoas fingem não perceber, mas todo mundo está o tempo todo flertando. Os homens agem como libertinos e as mulheres como putas. A vida se transformou num bordel, mas é ainda pior. O sexo é sempre ruim, e todos fingem que é o máximo. Sexo se tornou uma obrigação, uma conta a ser paga. Pessoas virgens têm vergonha de serem puras, o que é um absurdo! A pureza é que pode conhecer o amor, a partir do momento em que voce conhece o sexo, o amor se torna impossível.
E o assassino vai nesse ritmo, coerente apesar de chocante, corajoso. E o leitor quase entra nessa armadilha, quase lhe dá razão. Mas...Segue-se a descrição do crime, o inferno no casamento, o ciúmes que ele sentia, os filhos...E voce percebe então que o que Tolstoi está demonstrando não é o erro do século em matéria de materialismo, não é o tédio e o ódio entre casais, mas sim o modo engenhoso como nossa mente cria toda uma filosofia, todo um emaranhado de sutis razões para justificar um crime. Tudo aquilo que ele expôs, toda aquela maneira de ver as relações, nada mais é que um modo de se justificar perante nós e perante si-mesmo. Percebemos que assim funciona o mundo. O que antes era errado se torna o certo, o mal vira bem, o bem se faz um mal, tudo de acordo com o interesse do momento, e esse interesse é a absolvição de um ato violento, de um crime.
Desagradável. E soberbo.