RUSH, JAMES HUNT X NIKI LAUDA, O FIM DO ROMANCE

   Porque os anos 70 exercem tanto fascínio sobre tanta gente? RUSH, este bom filme de Ron Howard talvez deixe clara essa questão.
 Temos aqui um cara cool. James Hunt poderia ser aquilo que quisesse. Milionário, bonitão, bem humorado, ele anda cercado por mulheres, bebe muito, se diverte todo o tempo e é piloto porque, como ele próprio diz, é a única coisa que ele faz bem. Hedonista, mas no belíssimo final deste filme, vemos que não é só isso. 
 Niki Lauda também tem origens abastadas, mas ele é de outro mundo. Ele é prático, frio, antipático e na verdade é muito melhor piloto que Hunt. Lauda não corre por prazer, corre para vencer, sempre e sempre. 
 Os dois entram em choque e a grande falha do filme, que nunca poderia ser evitada sem que se ferisse a verdade, é que nunca conseguimos torcer por Niki Lauda. Ele é tão obcecado e tão eficiente que nada nos faz simpatizar por ele. Seu acidente não nos emociona. James Hunt é o verdadeiro herói, um tipo de criança grande, ingênuo, raivoso e que dá respostas maravilhosas aos jornalistas ( hoje ele não duraria um mês no negócio se falasse metade do que ele falava em 1976 ). E eis então que se revela o segredo da década, os anos 70 foram o último suspiro de um certo amadorismo, de uma certa liberdade que foi morta nos anos 80. De ALMOST FAMOUS a BOOGIE NIGHTS, todos mostram isso, a ingenuidade e o hedonismo sendo corrompidos pela fria eficiência. A fórmula Um teve em James Hunt seu último romântico, e em Niki Lauda o primeiro piloto do total profissionalismo. Vem daí a emoção da cena final, cena onde Hunt diz que eles são como "cavaleiros templários, lutando pela honra e contra a morte", e Niki responde dizendo que isso é "típica bobagem inglesa." Mas eles reconhecem a necessidade de se ter um rival. E surgem as emocionantes cenas com o Lauda real e o Hunt de verdade...Para quem como eu acompanhou a história na época, recordo ainda hoje o momento em que o carro pegou fogo, é de fazer chorar.
  James Hunt largou a F1 e continuou a viver. Lauda foi tri-campeão...Hunt morreria aos 45, do coração. Lauda vive.
  Muita gente falou: Porque não fizeram sobre Prost versus Senna? Fácil responder, porque seria uma história de dois Niki Laudas, não haveria contraste. Para nós, brazucas, que vemos Senna como um tipo de mártir-perfeito das pistas isso não procede, mas tanto Senna como Prost ou Schummi ou Alonso têm essa unilateralidade, essa super-eficiência, essa coisa de vida vivida só nas pistas e mais nada. Lauda criou esse estilo. Em 1975 ele era uma anomalia, hoje é o molde da linha de montagem.
 PS: Piquet tentou ser o último dos James Hunts. Faltou finesse. 
 PS2: O filme é ótimo.