HONRA TEU PAI

   Honra dos aristocratas. Daquele que se considera, sempre, melhor que todos os outros. Por ser melhor ele se cobra um tipo de Honra. Por ser superior ele se dava maiores obrigações. Sua honra se media pelo peso das obrigações auto-impostas. Um homem tão superior não pode se permitir ser diminuído. Esse o primeiro fardo, não aceitar uma ofensa, um desaforo. Seu Nome deve ter a Honra intocada. Não se pode dar um só motivo para uma futura desonra.
   Esse aristocrata não deve deixar uma mulher ser desonrada, pois toda a honra feminina em suas terras está sob sua guarda. Assim também com uma criança faminta ou uma viúva nas ruas. Será uma desonra ter mulheres e crianças ao relento, mas não os homens.
   Observe então. como essa Honra é auto-imposta, ela se baseia toda na auto-estima, a Palavra dada adquire um valor tremendo. Palavra dada vale mais que a vida, pois um aristocrata que quebra sua palavra não suporta viver sem sua Honra. Na verdade a Honra vale mais que a vida, pois como Valor ela se faz eterna, é transferida de Pai para filho, se torna o maior bem de uma familia. Morrer Honrado se faz a grande ambição de uma vida, ambição que na verdade não é ambição, é obrigação auto-imposta.
   Honra sem testemunhas, Honra que existe de mim para mim-mesmo.
   A Honra da burguesia passa a ser a honra dos documentos. Ela vale diante da comunidade, deixa de ser íntima. Se torna imposta e muito mais que isso, é um Dever de todos, ricos e pobres. Não é mais a honra da palavra, é a honra dos tribunais. Honra deixa de ser Preservar seu Nome e passa a ser Pagar suas dívidas.
   Veja a diferença: No Aristocrata tudo deve respirar e demonstrar sua Honra. Gestos, roupas, hábitos, tudo, desde sua infância, exibe ao mundo, mas acima de tudo a si-mesmo, sua intocada Honra. Por isso que cuspir na bandeira, dar um tapa no rosto ou blasfemar contra a fmilia se torna a pior das ofensas, sua Honra em seus mais nobres símbolos é naquele momento difamada. Óbvio notar que nada há de democrático aqui. O nobre detém a honra, o plebeu é um vilão. E o pior vilão é o comerciante, desonrado por profissão, pois quem vende se desonra ao esquecer sua dignidade e bajular o comprador. ( Observe como isso sobrevive nos artistas pretensiosos ).
   O honrado burguês parte da ideia comerciária de que ninguém é honrado. A honra deve ser garantida pelo documento escrito e pela lei. Honra que não é mais uma regra de vida, mas apenas uma obrigação para que a sociedade gire, para que negócios se façam.
   O aristocrata vive em Honra e tem momentos grandiosos em que sua Honra se exibe ao mundo. Seu idela seria a de um mundo em que sua Honra fosse sempre posta a prova. O burguês sonha com um mundo onde todos tivessem a mesma honra que a dele, onde sua honra nunca fosse questionada.
   Estamos hoje vivendo um dos raros momentos em que a Honra não mais existe. A aristocrata se foi há muito e a burguesa está em crise e em prova. Daí o barbarismo.
   Este texto escrito por mim foi inspirado por outro de Renato Janine Ribeiro.
   Vale!