Charles Mason ouviu Helter Skelter e leu nela uma mensagem cifrada. Ele tinha de matar alguém do show biz. Ia matar o produtor dos Byrds e errou o endereço. Matou a linda Sharon Tate, esposa de Polanski. Helter Skelter é uma das grandes sinfonias da confusão do confuso 1968. Helter Skelter é de Paul.
Jung sempre dizia que nossa vida é um processo de individuação. Nascemos como um membro anônimo de várias comunidades. E desde cedo lutamos para ser si-mesmo. Quando um cantor tem desde sempre uma carreira solo esse processo acontece numa briga consigo-mesmo. Dylan é um exemplo radical disso. Quando numa banda esse processo se faz entre seus membros. Nenhum disco na história do rock exibe isso de forma mais cruel que The Beatles. O que ouvimos é uma discussão. Os 4 se descobrem como indivíduos e passam a odiar tudo aquilo que a banda foi. Cada um a seu modo.
George chama Eric Clapton para o ajudar. Ringo se acabrunha e Lennon sabota todo o trabalho. Paul se faz mais Paul que nunca antes. Eu disse que Lennon sabota o disco? Ele estava ocupado em ser artista. Em se dopar. Em ser Yokoano. Os Beatles eram a infância. A Ono Band seria ser artista-adulto. É o primeiro disco onde Lennon exibe suas qualidades e fraquezas como artista solo. Suas faixas têm a indulgência e a urgência da Ono Band. Ele exibe sua víscera. Fede. E sabota a banda, que para ele era cada vez mais a banda do outro cara.
Sou fã de Paul. Afinal, eu cantava Hey Jude em 1968. Cantava como Hey Tchu. Tinha cinco anos. Tenho testemunhas disso. Será que Lennon não se sentia mal ao ver o sucesso das faixas de Paul? Será que ele se consolava pensando, :Ora, são lixo pop!
Há uma faixa em que Paul pede para que a banda volte a estrada. Uma das coisas mais tristes dos anos 60 é que não vimos eles no palco em boas condições. A partir de 67 os shows ficaram muito melhores e nada temos deles. Ob-la-di-ob-la-da é para crianças. Eu a cantava também. Mas Revolution number 9 é imperdoável. Pedante. Avant-garde Godardiana.
Back in The USSR é mais um hit de Paul. Em 68 os Beatles começavam a ser deixados de lado pelo povo chique. E ao mesmo tempo eles nunca tiveram hits tão fortes e grudentos. Back tenta ser Beatles de volta a 1966. E saibam, naquele tempo um ano era um milênio, 1966 parecia outro planeta.
Nunca gostei de Dear Prudence. Glass Onion é melhor. Bungallow Bill, Honey Pie...e então While My Guitar. O disco antecipa as carreiras futuras de Paul e John, e de George também. Eis aqui o George futuro.
Martha My Dear foi feita para a cadela de Paul. Harmonia, beleza orquestral, acabamento refinado. Que culpa Paul pode ter de ser feliz? So Tired é o comentário de John sobre tudo isso.
Blackbird é uma obra prima. Impossível cantar junto sem chorar. Linda, linda e linda. Gosto de Piggies. Ela me lembra Kinks. E também os Monty Python.
Alguns bons momentos passam e tudo cresce em Mothers Nature Son, feita para Donovan Leitch. É uma canção campestre. Maravilhosamente bem arranjada. Sexy Sadie é adorável. Savoy Truffle...
Se existem tantas grandes músicas porque este não é um grande album?
Porque ele transmite algo de ruim. Uma faixa nega a seguinte que briga com a próxima. Ele parece esquizo.
Como foi escutar em 1968?
Jung sempre dizia que nossa vida é um processo de individuação. Nascemos como um membro anônimo de várias comunidades. E desde cedo lutamos para ser si-mesmo. Quando um cantor tem desde sempre uma carreira solo esse processo acontece numa briga consigo-mesmo. Dylan é um exemplo radical disso. Quando numa banda esse processo se faz entre seus membros. Nenhum disco na história do rock exibe isso de forma mais cruel que The Beatles. O que ouvimos é uma discussão. Os 4 se descobrem como indivíduos e passam a odiar tudo aquilo que a banda foi. Cada um a seu modo.
George chama Eric Clapton para o ajudar. Ringo se acabrunha e Lennon sabota todo o trabalho. Paul se faz mais Paul que nunca antes. Eu disse que Lennon sabota o disco? Ele estava ocupado em ser artista. Em se dopar. Em ser Yokoano. Os Beatles eram a infância. A Ono Band seria ser artista-adulto. É o primeiro disco onde Lennon exibe suas qualidades e fraquezas como artista solo. Suas faixas têm a indulgência e a urgência da Ono Band. Ele exibe sua víscera. Fede. E sabota a banda, que para ele era cada vez mais a banda do outro cara.
Sou fã de Paul. Afinal, eu cantava Hey Jude em 1968. Cantava como Hey Tchu. Tinha cinco anos. Tenho testemunhas disso. Será que Lennon não se sentia mal ao ver o sucesso das faixas de Paul? Será que ele se consolava pensando, :Ora, são lixo pop!
Há uma faixa em que Paul pede para que a banda volte a estrada. Uma das coisas mais tristes dos anos 60 é que não vimos eles no palco em boas condições. A partir de 67 os shows ficaram muito melhores e nada temos deles. Ob-la-di-ob-la-da é para crianças. Eu a cantava também. Mas Revolution number 9 é imperdoável. Pedante. Avant-garde Godardiana.
Back in The USSR é mais um hit de Paul. Em 68 os Beatles começavam a ser deixados de lado pelo povo chique. E ao mesmo tempo eles nunca tiveram hits tão fortes e grudentos. Back tenta ser Beatles de volta a 1966. E saibam, naquele tempo um ano era um milênio, 1966 parecia outro planeta.
Nunca gostei de Dear Prudence. Glass Onion é melhor. Bungallow Bill, Honey Pie...e então While My Guitar. O disco antecipa as carreiras futuras de Paul e John, e de George também. Eis aqui o George futuro.
Martha My Dear foi feita para a cadela de Paul. Harmonia, beleza orquestral, acabamento refinado. Que culpa Paul pode ter de ser feliz? So Tired é o comentário de John sobre tudo isso.
Blackbird é uma obra prima. Impossível cantar junto sem chorar. Linda, linda e linda. Gosto de Piggies. Ela me lembra Kinks. E também os Monty Python.
Alguns bons momentos passam e tudo cresce em Mothers Nature Son, feita para Donovan Leitch. É uma canção campestre. Maravilhosamente bem arranjada. Sexy Sadie é adorável. Savoy Truffle...
Se existem tantas grandes músicas porque este não é um grande album?
Porque ele transmite algo de ruim. Uma faixa nega a seguinte que briga com a próxima. Ele parece esquizo.
Como foi escutar em 1968?