ARSENAL X AJAX, FUTEBOL HISTÓRIA

   Como é o Flamengo de 81, o São Paulo de 93 ou o Santos de 62, segundo Nick Hornby, o Arsenal atinge seu auge em 72 e este jogo, que posto inteiro, é seu momento mágico. Não é o melhor Arsenal, é o mais querido. Como o Corinthians de 77, longe de ser o melhor, mas para sempre o mais especial.
   O velho Highbury. Aquelas cabeças com suas expressões de pub à beira do gramado. Um mar de fanáticos, bêbados, apertados, mal vendo o jogo. E cantando. Os grossos do Arsenal dominando os dandys do Ajax.
   A beleza das camisas sem patrocínio. O vermelho puro dos londrinos, a faixa sagrada do Arsenal, a camisa histórica de Crujiff. 14. A grama péssima, lamacenta e irregular, a bola quica. Uma surpresa: o jogo é mais objetivo que hoje. É um anti-Espanha. O que se quer é resolver logo a jogada. Chegar ao gol rápido, poucos passes. Não se domina o tempo, tenta-se encurtá-lo. Pouca cera. O jogo é todo feito de área a área. As chances de gol se acumulam.
   Não se marca tão mal quanto se pensa. Se ataca com muita gente. Quase não ocorrem passes para trás. Gol, gol e gol. Só se mira o gol.
   Ruy Castro diz que só no Brasil se confunde história com saudosismo. Cultura é inevitávelmente olhar a história e compará-la ao presente. Aqui isso é descartado como saudosismo. Modo tonto e burro de se zombar da Cultura.
   Este jogo é uma narrativa histórica. Um momento em que os ingleses eram ainda 100% britãnicos e os holandeses criavam o futebol rebelde ( e dandy ). Mundo perdido, serve para percebermos o que ganhamos e o que perdemos. Essa gravação, por sua antiguidade é hoje arte. Pois tem originalidade, surpresa e história. Postarei outras. O futebol é às vezes uma emoção.