Meu amigo
Eu não tenho a coragem de ler aqueles cadernos que eu escrevia naquele tempo. Não sei porque, mas não rola. Então espero que um dia voce passe por aqui e os leia. Acontece que lembrei de um monte de coisas que eu não lembrava e minha memória foi acordada pelo Lloyd Cole tocando A Brand New Friend. Sei que nem é ou foi, dos seus favoritos. Mas sempre foi o meu.
Os anos 80 foram uma bosta e não mudei de opinião. Mas, caramba, a gente tava lá e acho que não devíamos zombar tanto disso. Foram meus 20 anos...Foi real? Eu realmente fui tão apaixonado assim pela Patti Wonderful e pela Andreia?
Amigo, fui, fui mesmo! E sei agora que ser feliz é conseguir amar. Para um cara mais ou menos normal de 20 anos amar é fácil. Para um quarentão amar é um exercício diário. É preciso matar o cinismo e mater o amor vivo. Crer no amor verdadeiro, falar nele, se jogar. Amigo, ele existe. E só ele vale.
Lembrei de voce conversando com o Wilson José até de manhã, o dono do Madame Satã. E de uma menina chamada June que voce gostou.
Lembro de seu sobretudo preto, estiloso pacas! De umas meninas de cabelos enormes pintados de roxo e de um negão dançando no porão. Na rua era muito legal. Deitei no capô, bêbado. Um doido de smoking ( dinner jacket ) me deu whisky. Era real? Aquilo era um clube de gente muito esquisita e decadente.
Ouvindo Lloyd Cole lembrei de meu vômito jorrando escada abaixo. Devo ter molhado um monte de gente que subia. Ninguém ligou, só um cara riu. Devo ter amolado voce falando de Patty Blue Jean. Porra! Eu me apaixonava só por ter falado um "Oi". Eu era Charlie Brown?
Bom....meus cadernos estão aqui, embrulhados numa sacola e não vou os ler. Misturei as lembranças de Dio com Percy e foi de propósito. Voces são os camaradas da década de 80. Mudamos todos, muito, mas os cadernos estão aqui.
Ser feliz passa por poder incluir e aceitar tudo o que se fez.
Até que não foi tão ruim.
Um abraço. Que são dois.