Em 1972 eu tinha 9 anos. E lembro de ficar noites e noites lendo Mickey e Tio Patinhas. E desfilei no 7 de setembro. Foi o ano do Sesquicentenário da Independência. Na escola a gente fazia cartazes com Dom Pedro e José Bonifácio. Desfilei numa avenida, em formação militar. Coisas do fascismo tupi.
Mas eu nada sabia. O que me pegava era o monte de gibis. ´´Aureos tempos do Homem Aranha. Na TV eu via só desenhos. Eram aqueles de sempre: Flintstones, Corrida Maluca, Zé Colméia, Pernalonga. Eu ia à escola com calças cor de vinho. Tinha também uma marrom. Outra azul claro. Boca Sino, claro. O tecido era uma droga! Um tipo de sintético que dava coceira e mal cheiro. Todo tecido era sintético! Tempo do Nylon, do tal Fio Escócia. Jeans? Só USTOP. Duro feito um pau. Era como vestir uma armadura. Eu usava também um casaco de Marujo. Azul marinho com botões de latão dourado. Caspa. Eu usava cabelos longos e tinha caspa. Caloi vermelha. Mas não é sobre nada disso que quero falar. Vou falar sobre o que eu NÃO sabia então.
No cinema voce podia escolher entre O Poderoso Chefão e Cabaret. Era um tempo em que o big hit de bilheteria ainda se construía em cima de atores e história. Mas já havia O Destino do Poseidon. Houve Uma Vez Um Verão era pra chorar. A Noite Americana, O Discreto Charme da Burguesia, O Último Tango em Paris. As grandes estrelas em 1972 eram Steve McQueen, Paul Newman, Robert Redford, Jack Nicholson, Clint Eastwood, Dustin Hoffman, Marlon Brando. A revelação se chamava Al Pacino. E Diane Keaton. As atrizes big stars eram Jane Fonda e Barbra Streisand. Tinha ainda Woody Allen e Mel Brooks.
Os escritores da moda eram Philip Roth, John Updike, Gore Vidal, Truman Capote e Tom Wolfe. Tinha ainda Borges, Marquez e Llosa. Sartre tava vivo e falava muito. Nabokov também.
1972 tinha o boooom do xadrez. Isso mesmo, essa eu vi na época. A guerra fria usou a disputa do mundial entre Boris Spassky e Bobby Fisher pra ver quem era mais inteligente, americanos ou russos. Munique, Olimpíada. Terrorismo. Mark Spitz e Olga Korbuci. Vimos ao vivo. Lembro.
Emerson Fittipaldi ganhou a F1. Lotus preta, ainda o F1 mais bonito da história.
Muhammad Ali era o Anderson Silva de 72. Pelé ainda jogava. Mas os melhores eram Crujff e Beckembauer. O Ajax de Amsterdan era o melhor time do mundo. E aqui tínhamos Jairzinho, Cajú, Rivellino, Pedro Rocha, Ademir da Guia e Dirceu Lopes. O novato esperança se chamava Zico.
O mundo pegava fogo. Ia acabar? Terrorismo na Europa. Baader Meinhoff na Alemanha querendo fazer de Bonn um centro maoísta. Na Itália as Brigadas Vermelhas. O ETA na Espanha e o IRA na Inglaterra.
Nos EUA havia o Panteras Negras. Negros armados para fazer a revolução. Angela Davis foi presa. Lennon e Jane Fonda eram perseguidos.
Eu lia o Manual do Tio Patinhas.
E havia Rock. Muito rock. Foi uma época em que se comprava mais música estrangeira no Brasil que MPB.
Transformer do Lou Reed. Harvest de Neil Young. Ziggy Stardust de Bowie. E ainda Led Zeppelin IV, Machine Head do Purple, o primeiro disco do Steely Dan. The Band e seu disco ao vivo. A estréia de J J Cale. O começo do Kraftwerk. O primeiro disco do Roxy Music. Tago Mago do CAN. Exile on Main Street dos Stones...
Lets Stay Together do Al Green e Lets Get It On de Marvin Gaye. E Superstition de Stevie Wonder. Catch a Fire-Bob Marley.
Rocket Man de Elton John. E o melhor disco dos Faces, aquele que tem Stay With Me. Schools Out de Alice Cooper.
Na época eu não ouvia nada disso. Eu ouvia rádio e conhecia de ouvir falar: Paul MacCartney, My Love; Michael Jackson, Ben; Bee Gees, I Started a Joke e os Monkees. Em 1972, por causa da TV, eu ainda amava os Monkees.
O mundo pirou em 1968 e em 1972 havia algo de podre nesse mundo. As coisas eram muito radicais, tudo parecia "pra ontem", cada um queria ser mais "diferente" que o outro.
Mas no meio disso tudo tinha o T. Rex. E o T. Rex era abominado pelos "inteligentinhos" de então. Porque Marc Bolan dava uma banana para a revolução. O que ele dizia era : "Eu amo meu Cadillac". As meninas adoravam Bolan. E não percebiam que ele era beeeeeem gay. Como dizia Liberace, só se nota o que se quer notar. Os meninos imitavam Bolan. E essa foi uma revolução que venceu. O rock inglês se tornou "Teatro". Nunca mais voltou a ser "Visceral". Pois mesmo Sex Pistols ou Clash ( que iam aos shows de Bolan ) faziam "teatro". Rock sujo e sem planejamento só nos EUA. Graças a Bolan. E a Bowie, que espertalhão, copiou tudo e deu uma sofisticada no rock simples do T. Rex.
Dou um show deles aí abaixo, de presente pra voces. Tosco. Forte. Pop. No fim tem Ringo Starr. Vejam que é muito legal.
Marc morreu em 1977 num carro on the road.
Em 1977 eu descobri o Roxy Music. E essa é uma outra história...
Mas eu nada sabia. O que me pegava era o monte de gibis. ´´Aureos tempos do Homem Aranha. Na TV eu via só desenhos. Eram aqueles de sempre: Flintstones, Corrida Maluca, Zé Colméia, Pernalonga. Eu ia à escola com calças cor de vinho. Tinha também uma marrom. Outra azul claro. Boca Sino, claro. O tecido era uma droga! Um tipo de sintético que dava coceira e mal cheiro. Todo tecido era sintético! Tempo do Nylon, do tal Fio Escócia. Jeans? Só USTOP. Duro feito um pau. Era como vestir uma armadura. Eu usava também um casaco de Marujo. Azul marinho com botões de latão dourado. Caspa. Eu usava cabelos longos e tinha caspa. Caloi vermelha. Mas não é sobre nada disso que quero falar. Vou falar sobre o que eu NÃO sabia então.
No cinema voce podia escolher entre O Poderoso Chefão e Cabaret. Era um tempo em que o big hit de bilheteria ainda se construía em cima de atores e história. Mas já havia O Destino do Poseidon. Houve Uma Vez Um Verão era pra chorar. A Noite Americana, O Discreto Charme da Burguesia, O Último Tango em Paris. As grandes estrelas em 1972 eram Steve McQueen, Paul Newman, Robert Redford, Jack Nicholson, Clint Eastwood, Dustin Hoffman, Marlon Brando. A revelação se chamava Al Pacino. E Diane Keaton. As atrizes big stars eram Jane Fonda e Barbra Streisand. Tinha ainda Woody Allen e Mel Brooks.
Os escritores da moda eram Philip Roth, John Updike, Gore Vidal, Truman Capote e Tom Wolfe. Tinha ainda Borges, Marquez e Llosa. Sartre tava vivo e falava muito. Nabokov também.
1972 tinha o boooom do xadrez. Isso mesmo, essa eu vi na época. A guerra fria usou a disputa do mundial entre Boris Spassky e Bobby Fisher pra ver quem era mais inteligente, americanos ou russos. Munique, Olimpíada. Terrorismo. Mark Spitz e Olga Korbuci. Vimos ao vivo. Lembro.
Emerson Fittipaldi ganhou a F1. Lotus preta, ainda o F1 mais bonito da história.
Muhammad Ali era o Anderson Silva de 72. Pelé ainda jogava. Mas os melhores eram Crujff e Beckembauer. O Ajax de Amsterdan era o melhor time do mundo. E aqui tínhamos Jairzinho, Cajú, Rivellino, Pedro Rocha, Ademir da Guia e Dirceu Lopes. O novato esperança se chamava Zico.
O mundo pegava fogo. Ia acabar? Terrorismo na Europa. Baader Meinhoff na Alemanha querendo fazer de Bonn um centro maoísta. Na Itália as Brigadas Vermelhas. O ETA na Espanha e o IRA na Inglaterra.
Nos EUA havia o Panteras Negras. Negros armados para fazer a revolução. Angela Davis foi presa. Lennon e Jane Fonda eram perseguidos.
Eu lia o Manual do Tio Patinhas.
E havia Rock. Muito rock. Foi uma época em que se comprava mais música estrangeira no Brasil que MPB.
Transformer do Lou Reed. Harvest de Neil Young. Ziggy Stardust de Bowie. E ainda Led Zeppelin IV, Machine Head do Purple, o primeiro disco do Steely Dan. The Band e seu disco ao vivo. A estréia de J J Cale. O começo do Kraftwerk. O primeiro disco do Roxy Music. Tago Mago do CAN. Exile on Main Street dos Stones...
Lets Stay Together do Al Green e Lets Get It On de Marvin Gaye. E Superstition de Stevie Wonder. Catch a Fire-Bob Marley.
Rocket Man de Elton John. E o melhor disco dos Faces, aquele que tem Stay With Me. Schools Out de Alice Cooper.
Na época eu não ouvia nada disso. Eu ouvia rádio e conhecia de ouvir falar: Paul MacCartney, My Love; Michael Jackson, Ben; Bee Gees, I Started a Joke e os Monkees. Em 1972, por causa da TV, eu ainda amava os Monkees.
O mundo pirou em 1968 e em 1972 havia algo de podre nesse mundo. As coisas eram muito radicais, tudo parecia "pra ontem", cada um queria ser mais "diferente" que o outro.
Mas no meio disso tudo tinha o T. Rex. E o T. Rex era abominado pelos "inteligentinhos" de então. Porque Marc Bolan dava uma banana para a revolução. O que ele dizia era : "Eu amo meu Cadillac". As meninas adoravam Bolan. E não percebiam que ele era beeeeeem gay. Como dizia Liberace, só se nota o que se quer notar. Os meninos imitavam Bolan. E essa foi uma revolução que venceu. O rock inglês se tornou "Teatro". Nunca mais voltou a ser "Visceral". Pois mesmo Sex Pistols ou Clash ( que iam aos shows de Bolan ) faziam "teatro". Rock sujo e sem planejamento só nos EUA. Graças a Bolan. E a Bowie, que espertalhão, copiou tudo e deu uma sofisticada no rock simples do T. Rex.
Dou um show deles aí abaixo, de presente pra voces. Tosco. Forte. Pop. No fim tem Ringo Starr. Vejam que é muito legal.
Marc morreu em 1977 num carro on the road.
Em 1977 eu descobri o Roxy Music. E essa é uma outra história...