O FILME MAIS IMPORTANTE DA MINHA VIDA

  Se Martin Scorsese diz que o filme que mudou sua vida foi THE RED SHOES de Powell, visto aos 9 anos; e se Woody Allen diz que o seu foi O SÉTIMO SELO visto aos 12; qual foi o meu?
  RASTROS DE ÓDIO de Ford salvou a minha vida, mas a questão não é essa. ALL THAT JAZZ me revigorou, A RODA DA FORTUNA destruiu meu preconceito...Mas qual filme entrou em minha alma e lá se instalou? Qual que modificou meu gosto, minha direção e expandiu assim minha existência?
   É certo e claro que quanto mais jovem, mais voce pode se impressionar. Se voce tiver a sorte de ser exposto a algo de realmente poderoso. Toda uma geração despertou com STAR WARS. E eu?
   Meu filme foi visto na TV, com péssima imagem e em clima de magia. A lembrança é tão antiga que eu pensei por muito tempo ter sido um sonho. Achei que o filme que vi não existia, que fosse algo que eu sonhara. Recordava de lagos, fadas dançando, um homem apaixonado que era enfeitiçado e virava bicho, lembrava desse homem chorando ao ver seu reflexo no lago. Lembrava de névoas, de um bosque e de um menino mau. E sabia ter visto essas imagens com o rosto quase encostado na TV, sózinho. Porque em casa acontecia uma festa, era Natal e os adultos comiam e falavam. Mas eu, enfeitiçado, me hipnotizava com aquelas imagens.
   Por décadas elas foram um enigma para minha alma. Era um filme? Um sonho? Eu tentava reviver aquela sensação. Fazâ-la presente em mim. Não deixar com que ela se fosse.
   Então em 2008 eu compro um DVD e lá está o filme! SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, do alemão Max Rheinhart, feito na Warner em 1933. Três horas de imagens deslumbrantes. As fadas, o lago, o menino mau...todos lá estão! O menino era Mickey Rooney! O homem que virava bicho era James Cagney! E a fada musa que para sempre me seduziu era uma lindíssima Anita Louise!.... Esse não é o melhor filme que já vi. Mas ele é o mais importante. Fez com que eu visse desde muito cedo aquilo que o cinema poderia ser. E me deu uma fascinação, para sempre, pela imagem. Mostrou ao muito jovem- eu que o sublime existia e que a imaginação é mais verdadeira que a solidez.
   Aos 15 anos eu vi O MENSAGEIRO e descobri minha sina. Mas essa é uma outra história...