Já escrevi isso um dia e volto a repetir: A coisa mais importante do século XX não foi o comunismo, a chegada a Lua, Bill Gates, a TV ou o esporte. Se um cara do século XIX chegasse a SP, Paris ou New York agora o que mais o deixaria pasmo seria a "negritude" do mundo. Falo negritude porque não falo só do fato de muitos negros andarem livres pelas ruas. O que mais o impressionaria é que a música é negra, o design é africano e principalmente, falamos, caminhamos, nos vestimos e gesticulamos como negros. Este filme, que NÂO é um bom filme, vai te ajudar a entender isso.
Eu adoro Fred Astaire. Amo Cary Grant e John Wayne. Mas ninguém no mundo de hoje anda, fala e vive no mundo de Astaire, Cary e Wayne. O mundo desses ícones é o de 1941 por exemplo. E este filme começa em 1941. E começa numa plantation no Mississipi e Muddy Waters está lá. E aquele negro caipira, com seu violão é um homem de hoje. Coisa que Astaire não é.
A história da Chess Records é conhecida por qualquer um que saiba o que seja Rock. Leo Chess, judeu polonês, pobre, pega Muddy e o grava. O resto é lenda. Muddy lança a base do som rock e Little Walter a atitude auto-destrutiva do rock star. Eles falam como Keith Richards e tocam como Jimi Page ou Jack White. Ganham alguma grana e bebem demais.
O filme foi produzido por Beyoncé. E ela exagera um pouco em seu papel de Etta James. Tem Etta demais e Chuck de menos. Mos Def faz Chuck Berry. O cara que uniu Muddy ao country e inventou assim Elvis e os Beatles. Mos Def faz Chuck melhor que o próprio Berry.
A melhor cena do filme é aquela em que Chess descobre um cara chamado Howlin Wolf. Cedric the Entertainer faz Wolf. O cara mais honesto-simples-forte e durão do blues. Suas cenas são do balacobaco e ele merece um filme só pra ele.
Eles, diretora, produtora, atores, amam o blues. A gente percebe isso no filme. Mas tentaram contar coisas demais. Até a chegada dos Stones na Chess para gravar umas faixas em 1964 eles botaram ( e a cena é ótima ). " Esses branquelos magricelos são espertos".
Ao ler a bio de Keith a gente percebe que ele passou toda a vida imitando Muddy, Chuck e Wolf. Ser chamado de black seria o maior elogio possível para Keith. E ele é, ele chegou lá. O povo que não gosta de Keith é o mesmo que não escuta black music. Ele é preto. E esse processo todos nós vivemos, em maior ou menor grau. Somos apaixonados pelo som, pela ginga, pelo improviso, pelo espírito voodoo.
Veja o filme e entenda do que falo.
PS: Quando Howlin Wolf morreu em 1976 ele estava tão falido que não havia dinheiro para seu enterro. Eric Clapton pagou o funeral e a lápide. Nada mais justo. Wolf é o homem que o fez nascer.
Eu adoro Fred Astaire. Amo Cary Grant e John Wayne. Mas ninguém no mundo de hoje anda, fala e vive no mundo de Astaire, Cary e Wayne. O mundo desses ícones é o de 1941 por exemplo. E este filme começa em 1941. E começa numa plantation no Mississipi e Muddy Waters está lá. E aquele negro caipira, com seu violão é um homem de hoje. Coisa que Astaire não é.
A história da Chess Records é conhecida por qualquer um que saiba o que seja Rock. Leo Chess, judeu polonês, pobre, pega Muddy e o grava. O resto é lenda. Muddy lança a base do som rock e Little Walter a atitude auto-destrutiva do rock star. Eles falam como Keith Richards e tocam como Jimi Page ou Jack White. Ganham alguma grana e bebem demais.
O filme foi produzido por Beyoncé. E ela exagera um pouco em seu papel de Etta James. Tem Etta demais e Chuck de menos. Mos Def faz Chuck Berry. O cara que uniu Muddy ao country e inventou assim Elvis e os Beatles. Mos Def faz Chuck melhor que o próprio Berry.
A melhor cena do filme é aquela em que Chess descobre um cara chamado Howlin Wolf. Cedric the Entertainer faz Wolf. O cara mais honesto-simples-forte e durão do blues. Suas cenas são do balacobaco e ele merece um filme só pra ele.
Eles, diretora, produtora, atores, amam o blues. A gente percebe isso no filme. Mas tentaram contar coisas demais. Até a chegada dos Stones na Chess para gravar umas faixas em 1964 eles botaram ( e a cena é ótima ). " Esses branquelos magricelos são espertos".
Ao ler a bio de Keith a gente percebe que ele passou toda a vida imitando Muddy, Chuck e Wolf. Ser chamado de black seria o maior elogio possível para Keith. E ele é, ele chegou lá. O povo que não gosta de Keith é o mesmo que não escuta black music. Ele é preto. E esse processo todos nós vivemos, em maior ou menor grau. Somos apaixonados pelo som, pela ginga, pelo improviso, pelo espírito voodoo.
Veja o filme e entenda do que falo.
PS: Quando Howlin Wolf morreu em 1976 ele estava tão falido que não havia dinheiro para seu enterro. Eric Clapton pagou o funeral e a lápide. Nada mais justo. Wolf é o homem que o fez nascer.