Caiu nas minhas mãos, uma amiga pediu pra eu ler. Li. O Mundo de Sofia é bom. Uma bela maneira de se entrar no mundo da filosofia. Ainda lembro da impressão que me causou o capítulo sobre Berkeley. Mas este livro, que é o primeiro de Gaarder, lançado em 1986, é beeem pior. Sorry.
São contos filosóficos. Num deles uma mulher com câncer descobre o budismo. Em outro um homem com câncer quebra loja de porcelanas. Há um conto futurista sobre mundo interligado. E por aí vai. Todos falam sobre gente no limite, momento em que o interesse pela filosofia nasce. Claro, são todos filosóficos. Ok, mas Italo Calvino e Borges fazem esse tipo de conto de modo muito melhor, muito mais filosófico e com uma originalidade que Gaarder não chega nem a sonhar. Ele escreve mal. Muito mal. Belas intenções, pensamentos válidos, falta talento.
Num dos contos, Nietzsche comparece. É demonstrado um fato: Apolo venceu Dionisos e no mundo de hoje somos fracos e assistimos passivos a vida rolar. No século XIX ainda se faziam coisas, mas agora apenas as olhamos. Ok, tá certo, mas e daí Jostein? Falar isso não é fazer um conto. Onde sua criação?
Em outro conto o personagem descobre que o mundo é impossível. É impossível estarmos de pé num planeta que é uma bola, é impossível que o ar vire energia e queime dentro da gente, é impossível que uma explosão tenha do nada criado o tudo, é impossível que Deus exista e é impossível que a mente de carne e sangue produza pensamentos abstratos, a vida é impossível. Mas tudo isso é real. Nasce desse aturdimento, sentimento que só os acordados têm, a filosofia. Belo tema para um conto né? Necas! Gaarder escreve um conto moroso e xoxo.
Livros como filmes às vezes são profundos e geniais ao falar de férias na praia ou de um homem e seu cavalo. E às vezes são incrivelmente rasteiros ao falar de Nietzsche, Deus e Platão. Um artista verdadeiro transforma uma conversa em mesa de poker em arte, um fariseu consegue fazer do ouro, pedra.
O Pássaro Raro é um pedregulho.