Fenômeno universal, como a música, a religião e a saga, não existe sociedade sem poesia. Fácil observar, povos vários desconhecem a prosa, todos praticam o verso. E aqui temos 3 poetas centrais da China: Li Bai, Du Fu e Wang Wei. Traduzidos do chinês, edição bilingue, preço acessível.
Escritos todos em torno dos anos de 700/800 de nossa era, eles apresentam imensas diferenças daquilo que se fazia/faz no ocidente. Os chineses são muito mais simples, diretos e depurados. Pouco mergulham em questões do céu ou da alma. Influenciados pelo budismo, observam seu redor e o descrevem. Na descrição da chuva, da folha que amarela ou da neve reside toda a simbologia da vida e da morte. São circulares, nada nesses poemas corre, não procuram algo de sensacional. A influencia de Confucio é ainda maior. Os poemas têm um pé plantado na sociedade. Estranho, todo poeta chinês, em oposição ao europeu que sempre procurou a glória, se afasta do mundo e como monge, vive na montanha em absoluta solidão. Pena Octavio Paz não ter analisado a poesia da China. Eles provam em definitivo a raiz comum de Deus e da musa poética. Vinte, trinta anos em absoluto isolamento, vivendo em estado de fome, de ansiedade e de súbitas iluminações. Escrevendo milhares de páginas. Acima de tudo, vendo, observando, saindo de si.
Li Bai é o mais feliz. Du Fu é trágico e na China de hoje é conhecido como Shakespeare na Inglaterra. Wang Wei é a sintese dos dois.
O cavalo empertigado
Marcha
Sobre as folhas caídas.
Meu relho no ar roça as nuvens.
Bela, a menina que abre a cortina de pérolas.
aponta ao longe, com um sorriso
A casa vermelha
É lá que eu moro.
Li Bai.
Não procure sentidos nesses versos. Eles nada mais simbolizam que aquilo que aparentam ser. Ao contrário da tradição da Europa, nada há escondido. Cavalo que é cavalo, menina que é menina. O que importa aqui é a sensação que sua leitura, calma e quieta, traz. Para serem lidos em voz alta, com atenção, eles existem como possibilidade de se produzir algo. Ou não. Como um peixe que pula no ar, cabe a você saber apreciar o peixe que salta, ou o ignorar.
Gosto do monte Tong
porque ele me deixa alegre.
Fico por aqui bem uns mil anos.
Danço ao meu gosto
Minha manga solta roça de uma só vez
Todos os pinheiros aqui de cima.
Li Bai.