Se eu tivesse de escrever uma obra sobre a musica pop teria dificuldades em ser imparcial ao relatar as fases 61-67, 83-88 e 2005-2012; porque são as épocas que Menos gosto. Os elogios pareceriam forçados, as críticas muito fortes. Carpeaux por mais que disfarça, não gosta do romantismo, daí que seus elogios parecem artificiais e suas críticas exageradas. Como apaixonado pela literatura do século XVII, Otto, lógico, não pode compreender completamente o romantismo. Não o aceita.
Românticos são narcisos. Em tudo aquilo que colocam o olhar vêem um EU. Suas obras sempre falam de um Ego em luta contra o Mundo. Daí a imensa quantidade de heróis e de sofredores. Napoleão é o guia dessa geração. Napoleão é amado como o indivíduo contra o mundo, ou odiado como o vilão que vulgarizou o planeta. Nunca é ignorado. Otto Maria Carpeaux não aceita essa literatura. Daí passar o livro inteiro chamando os autores da época de "esquisitões", "neuróticos" ou "paranóicos". Ele cria diagnósticos e analisa pouco.
É verdade, nunca houve tanto poeta suicida como nessa época, nunca aconteceu de tantos morrerem tão cedo ou acabarem como mendigos ou loucos internados. Mas ele deveria dizer como isso aconteceu e não se contentar com um veredito. O que levou tantos a esse caminho?
Por volta de 1800 acaba a imagem do artista como "protegido dos nobres". Com a ascensão da classe média e o fim da nobreza como classe central-única, os artistas devem, pela primeira vez, lutar pelo sustento "se vendendo". Precisam agradar a burguesia, agradar aos jornalistas, produzir muito, adivinhar o que o público deseja. É aqui que surge o conceito de best-seller, um gênero criado inconscientemente por Walter Scott. Os artistas mais sensíveis, incapazes de se adaptar a esse mundo de fábricas, relógios e competição, sucumbem.
Aviso que não sou um grande fã dos romanticos. Apesar de ser a época de Stendhal, Keats e Wordsworth, me incomoda essa obsessão pelas dores da vida, pelas injustiças. Estou muito mais perto de Montaigne ou de Sterne que de Hugo ou Byron. Mas tenho de admitir, eles foram grandes, muito grandes, e até agora ( mas já em franca decadência ), aquilo que entendemos por "artista" está muito próximo daquilo que foi Beethoven, Byron ou Victor Hugo. O indivíduo em luta contra o meio injusto. O anjo caido.
Falar de tudo o que o livro diz é impossível. São milhares de autores. Destaco alguns, não necessariamente os maiores. Vejam Walter Scott. Ele é até hoje o mais best-seller dos best-sellers. Mais que Dumas, Verne ou Conan Doyle, Scott criou aquilo que chamamos ainda de "romance popular". Influenciou toda a Europa, vendeu aos milhões ( em 1815, em 1820 !!! ). Ele criou o romance medieval, o romance de viagens, o romance de aventuras histórico. Tudo o que vemos nas livrarias que traga algo de gótico, de romanesco, de "passadista" tem uma dívida com Walter Scott. Ele cria o romantismo de evasão, o livro que nos faz "ir embora para lugares miticos".
Otto considera Kierkegaard o grande filósofo romântico. Seu mergulho no Eu chega ao paradoxo: negar o Eu. Kierkegaard chega a conclusão que o homem deve tomar uma decisão existencial, negar a Deus, e viver na animalidade absoluta do aqui e agora, ou aceitar Deus, negar o Eu, e viver no compromisso com o Outro. Schopenhauer e Hegel seriam os outros filósofos românticos, um com seu nada e o outro com sua dialética histórica.
Em termos de história do período, Otto, que era austríaco, coloca neste período o fim da verdadeira Viena. A cidade barroca, católica, sensual, feliz, riquíssima, seria sufocada por Berlim e seu espírito gótico, luterano. Fato pouco lembrado e muito importante, Otto Maria Carpeaux une religião e arte, religião e filosofia, dessa forma, a arte do romantismo se liga a um renascimento católico, assim como o realismo é a confirmação do positivismo e nossa arte atual é filha de um "vale tudo" pseudo-religioso. Para quem acha que nosso tempo é o mais ateu dos tempos, esse foi o século XVIII. Século que culmina na Revolução.
Stendhal é um dos que Otto salva. Isso porque, em estilo, ele é muito mais século XVIII que XIX. Sua alma é racionalista. Coisa admirável, Stendhal é tão inteligente que a psicologia de seus livros é válida até hoje. O que os personagens fazem, sentem, pensam, é aquilo que fazemos, pensamos e sentimos até hoje. É o maior dos psicólogos romancistas.
Devo dizer ainda que Otto preserva de suas críticas o pré-romantismo, esse romantismo de 1790, de Wordsworth e Coleridge, a poesia dos lagos, a poesia daqueles que negam a vida moderna e se isolam nas matas, em contemplação, em adoração ao mundo natural. São os poetas que percebem um universo numa gota de chuva. E que falam de pobres agricultores como se fossem reis.
Gogol, Hans Christian Andersen, Shelley, Heine, Thoreau, Emerson, uma linha infindável de nomes, grandes, pequenos, esquecidos, vivos. Um grande livro, mas da série de Carpeaux é o pior.
Românticos são narcisos. Em tudo aquilo que colocam o olhar vêem um EU. Suas obras sempre falam de um Ego em luta contra o Mundo. Daí a imensa quantidade de heróis e de sofredores. Napoleão é o guia dessa geração. Napoleão é amado como o indivíduo contra o mundo, ou odiado como o vilão que vulgarizou o planeta. Nunca é ignorado. Otto Maria Carpeaux não aceita essa literatura. Daí passar o livro inteiro chamando os autores da época de "esquisitões", "neuróticos" ou "paranóicos". Ele cria diagnósticos e analisa pouco.
É verdade, nunca houve tanto poeta suicida como nessa época, nunca aconteceu de tantos morrerem tão cedo ou acabarem como mendigos ou loucos internados. Mas ele deveria dizer como isso aconteceu e não se contentar com um veredito. O que levou tantos a esse caminho?
Por volta de 1800 acaba a imagem do artista como "protegido dos nobres". Com a ascensão da classe média e o fim da nobreza como classe central-única, os artistas devem, pela primeira vez, lutar pelo sustento "se vendendo". Precisam agradar a burguesia, agradar aos jornalistas, produzir muito, adivinhar o que o público deseja. É aqui que surge o conceito de best-seller, um gênero criado inconscientemente por Walter Scott. Os artistas mais sensíveis, incapazes de se adaptar a esse mundo de fábricas, relógios e competição, sucumbem.
Aviso que não sou um grande fã dos romanticos. Apesar de ser a época de Stendhal, Keats e Wordsworth, me incomoda essa obsessão pelas dores da vida, pelas injustiças. Estou muito mais perto de Montaigne ou de Sterne que de Hugo ou Byron. Mas tenho de admitir, eles foram grandes, muito grandes, e até agora ( mas já em franca decadência ), aquilo que entendemos por "artista" está muito próximo daquilo que foi Beethoven, Byron ou Victor Hugo. O indivíduo em luta contra o meio injusto. O anjo caido.
Falar de tudo o que o livro diz é impossível. São milhares de autores. Destaco alguns, não necessariamente os maiores. Vejam Walter Scott. Ele é até hoje o mais best-seller dos best-sellers. Mais que Dumas, Verne ou Conan Doyle, Scott criou aquilo que chamamos ainda de "romance popular". Influenciou toda a Europa, vendeu aos milhões ( em 1815, em 1820 !!! ). Ele criou o romance medieval, o romance de viagens, o romance de aventuras histórico. Tudo o que vemos nas livrarias que traga algo de gótico, de romanesco, de "passadista" tem uma dívida com Walter Scott. Ele cria o romantismo de evasão, o livro que nos faz "ir embora para lugares miticos".
Otto considera Kierkegaard o grande filósofo romântico. Seu mergulho no Eu chega ao paradoxo: negar o Eu. Kierkegaard chega a conclusão que o homem deve tomar uma decisão existencial, negar a Deus, e viver na animalidade absoluta do aqui e agora, ou aceitar Deus, negar o Eu, e viver no compromisso com o Outro. Schopenhauer e Hegel seriam os outros filósofos românticos, um com seu nada e o outro com sua dialética histórica.
Em termos de história do período, Otto, que era austríaco, coloca neste período o fim da verdadeira Viena. A cidade barroca, católica, sensual, feliz, riquíssima, seria sufocada por Berlim e seu espírito gótico, luterano. Fato pouco lembrado e muito importante, Otto Maria Carpeaux une religião e arte, religião e filosofia, dessa forma, a arte do romantismo se liga a um renascimento católico, assim como o realismo é a confirmação do positivismo e nossa arte atual é filha de um "vale tudo" pseudo-religioso. Para quem acha que nosso tempo é o mais ateu dos tempos, esse foi o século XVIII. Século que culmina na Revolução.
Stendhal é um dos que Otto salva. Isso porque, em estilo, ele é muito mais século XVIII que XIX. Sua alma é racionalista. Coisa admirável, Stendhal é tão inteligente que a psicologia de seus livros é válida até hoje. O que os personagens fazem, sentem, pensam, é aquilo que fazemos, pensamos e sentimos até hoje. É o maior dos psicólogos romancistas.
Devo dizer ainda que Otto preserva de suas críticas o pré-romantismo, esse romantismo de 1790, de Wordsworth e Coleridge, a poesia dos lagos, a poesia daqueles que negam a vida moderna e se isolam nas matas, em contemplação, em adoração ao mundo natural. São os poetas que percebem um universo numa gota de chuva. E que falam de pobres agricultores como se fossem reis.
Gogol, Hans Christian Andersen, Shelley, Heine, Thoreau, Emerson, uma linha infindável de nomes, grandes, pequenos, esquecidos, vivos. Um grande livro, mas da série de Carpeaux é o pior.