Jorge Guinle foi o último playboy brasileiro. Hoje não existem playboys. Porque? Porque o "fazer algo de útil" tomou conta de todo mundo. O verdadeiro playboy gasta dinheiro. E não trabalha nunca. Nem faz aplicações, negócios, especulações etc. Ele gasta e jamais sabe quanto tem ou de onde virá o dinheiro. Recebe grana do banco, dos pais, cai em sua conta. E ele gasta, tudo. Em diversão. Sem se preocupar. Isso é ser playboy. Segundo Jorginho, hoje talvez só os principes árabes tenham cacife pra ser assim. Mas eles se divertem pouco.
Jorge Guinle jamais trabalhou. Nem um dia de sua vida. Os Guinle tinham vários negócios, principalmente imóveis no Rio, mas a fonte maior era o porto de Santos. Eles eram donos do porto. De cada 5 cafés que se tomava no mundo, 3 pagavam tributo aos Guinle. Mas Jorge nunca teve muito. O dinheiro era da familia, ele recebia mesada. Em valor de hoje, "apenas" 100 mil por mês. Menos que qualquer jogador de futebol conhecido. Mas com um detalhe: esses 100 mil eram apenas para diversão. Todas as contas "sérias" eram pagas, assim como ele ia a restaurantes e clubes de graça. Tinha um dos Rolls Royce da familia, passagens de avião, roupas. Basicamente os 100 mil eram para taxi.
O livro tem fotos. A mais bonita é da casa onde ele nasceu. Uma mansão gigantesca em Botafogo. Depois ela se tornou embaixada da Argentina. Quem mora em SP, passe na Avenida Nove de Julho e olhe a Casa da Marinha. É muito parecida. Coisa de 22 empregados. A chácara Gromari, onde a seleção treina em Teresópolis, também era da familia. Dois milhões de metros quadrados.
Jorge estudou no College de France. Sua primeira lingua foi o francês. O College é a melhor escola francesa. É aquela faculdade, da qual já falei, sonho de todo professor da USP. Paga o melhor salário do mundo, e seus mestres dão apenas uma aula por ano. Sobre o tema que escolher. Lá, Guinle estudou filosofia. E se formou na cadeira de Bergson. Sua filosofia não é bergsoniana, é William James com Russell, o tipico materialismo do começo do século XX. Jorginho fala do que pensa: Não existe um Eu. Nem um Ego. Crer no Inconsciente é crer em mitologia. O eu é a soma de experiências. Qaunto mais vivência, mais eu voce tem. Fora disso não há nada. Tudo no cérebro é mecãnico, não há nada de oculto, simbólico ou inconsciente. Pensamos o que provamos. Fora de nós o que há é matéria. Sem a matéria nada há. Infinito é algo impossível. Tudo tem um fim. A matéria é finita, experimentável e temporal. Fora da matéria, o nada. Não existe uma função da vida, um porque. O que há é a matéria sendo provada por nós. Nosso Eu, uma ficção, é um conjunto de lembranças e de aprendizados.
Jorge Guinle fala ainda de pintura, tema que ele conhece. Mas sua paixão é outra, mulheres. Ele fala de suas namoradas, a maioria atrizes americanas. Ele conheceu Hollywood em seu auge, conviveu com produtores, atores e as belas mulheres. Nada do que ele conta é muito apimentado, gentleman, ele mantém uma certa discrição. Boas as histórias com Erroll Flynn. Voce pode estar pensando: "Como esse brasileiro conseguia ser recebido por tanta gente top?" A resposta é: Copacabana Palace. O Rio da época, ainda com cassinos, era um tipo de Bahamas de hoje, uma pacifica ilha tropical, um oásis que todos queriam conhecer. Guinle hospedava essas estrelas, o Copacabana era dos Guinle. O Rio, cidade calma, sem crimes, os enfeitiçava. Sofia Loren, Kim Novak, Rita Hayworth, Cary Grant, Jayne Mansfield, Gina Lollobrigida, Ava Gardner, David Niven, Ginger Rogers...
O que mais me deliciou são as comparações do que era ser rico em 1930, e do que é ser rico hoje ( 1997 ). Os ricos simplesmente não se misturavam em 1930. As familias ricas de Filadélfia e Boston não aceitavam os ricos de New York, pois New York era cidade de novos ricos. Os Rockefeller, por exemplo, por mais que gastassem, não eram aceitos pelos Vanderbilt, ricos bostonianos de 200 anos. Mas era na Europa que estava o verdadeiro luxo. Jantares onde era obrigatório ter um mordomo para cada dois convidados. Trocava-se de roupa três vezes por dia: roupa da manhã, da tarde e do jantar ( sempre o dinner-jacket, que sabe-se lá porque, chamamos de smoking ). Pratos de ouro puro, pesados, jóias que se podia usar na rua ( no Rio as mulheres iam passear em Copacabana com diamantes... Mal comparando, lembrei que em 1972 minha mãe ia visitar sua prima na Nove de Julho com colares de ouro grossos... ). Um tempo de imensa segurança, tempo que não volta. Nunca.
Mas não pense em alienação. Guinle se diz de esquerda. Ele ama o luxo, mas quer esse luxo para todos. Sabe o que é a injustiça, mas sabe também que o modelo socialista nunca dará certo. Porque o homem quer mais, quer poder ter.
Livro excelente para se ler a beira da piscina, um anti-Caras, anti-celebridades, Jorge Guinle nos conquista por sua inocência.
PS: O livro expõe algo que eu já suspeitava: O homem que se dá melhor com as mulheres é aquele que as ama integralmente, sem medo.
Já me ia esquecendo!!! O jazz é outro grande amor de Jorge. Ele dividiu mesa de bar com Billie Holiday, Dizzy Gillespie, Charlie Parker. Esteve no Cotton Club em seu auge, viu o bop nascer. Tá tudo no livro. Quem quiser saber mais sobre jazz tem prato cheio.
Jorge Guinle jamais trabalhou. Nem um dia de sua vida. Os Guinle tinham vários negócios, principalmente imóveis no Rio, mas a fonte maior era o porto de Santos. Eles eram donos do porto. De cada 5 cafés que se tomava no mundo, 3 pagavam tributo aos Guinle. Mas Jorge nunca teve muito. O dinheiro era da familia, ele recebia mesada. Em valor de hoje, "apenas" 100 mil por mês. Menos que qualquer jogador de futebol conhecido. Mas com um detalhe: esses 100 mil eram apenas para diversão. Todas as contas "sérias" eram pagas, assim como ele ia a restaurantes e clubes de graça. Tinha um dos Rolls Royce da familia, passagens de avião, roupas. Basicamente os 100 mil eram para taxi.
O livro tem fotos. A mais bonita é da casa onde ele nasceu. Uma mansão gigantesca em Botafogo. Depois ela se tornou embaixada da Argentina. Quem mora em SP, passe na Avenida Nove de Julho e olhe a Casa da Marinha. É muito parecida. Coisa de 22 empregados. A chácara Gromari, onde a seleção treina em Teresópolis, também era da familia. Dois milhões de metros quadrados.
Jorge estudou no College de France. Sua primeira lingua foi o francês. O College é a melhor escola francesa. É aquela faculdade, da qual já falei, sonho de todo professor da USP. Paga o melhor salário do mundo, e seus mestres dão apenas uma aula por ano. Sobre o tema que escolher. Lá, Guinle estudou filosofia. E se formou na cadeira de Bergson. Sua filosofia não é bergsoniana, é William James com Russell, o tipico materialismo do começo do século XX. Jorginho fala do que pensa: Não existe um Eu. Nem um Ego. Crer no Inconsciente é crer em mitologia. O eu é a soma de experiências. Qaunto mais vivência, mais eu voce tem. Fora disso não há nada. Tudo no cérebro é mecãnico, não há nada de oculto, simbólico ou inconsciente. Pensamos o que provamos. Fora de nós o que há é matéria. Sem a matéria nada há. Infinito é algo impossível. Tudo tem um fim. A matéria é finita, experimentável e temporal. Fora da matéria, o nada. Não existe uma função da vida, um porque. O que há é a matéria sendo provada por nós. Nosso Eu, uma ficção, é um conjunto de lembranças e de aprendizados.
Jorge Guinle fala ainda de pintura, tema que ele conhece. Mas sua paixão é outra, mulheres. Ele fala de suas namoradas, a maioria atrizes americanas. Ele conheceu Hollywood em seu auge, conviveu com produtores, atores e as belas mulheres. Nada do que ele conta é muito apimentado, gentleman, ele mantém uma certa discrição. Boas as histórias com Erroll Flynn. Voce pode estar pensando: "Como esse brasileiro conseguia ser recebido por tanta gente top?" A resposta é: Copacabana Palace. O Rio da época, ainda com cassinos, era um tipo de Bahamas de hoje, uma pacifica ilha tropical, um oásis que todos queriam conhecer. Guinle hospedava essas estrelas, o Copacabana era dos Guinle. O Rio, cidade calma, sem crimes, os enfeitiçava. Sofia Loren, Kim Novak, Rita Hayworth, Cary Grant, Jayne Mansfield, Gina Lollobrigida, Ava Gardner, David Niven, Ginger Rogers...
O que mais me deliciou são as comparações do que era ser rico em 1930, e do que é ser rico hoje ( 1997 ). Os ricos simplesmente não se misturavam em 1930. As familias ricas de Filadélfia e Boston não aceitavam os ricos de New York, pois New York era cidade de novos ricos. Os Rockefeller, por exemplo, por mais que gastassem, não eram aceitos pelos Vanderbilt, ricos bostonianos de 200 anos. Mas era na Europa que estava o verdadeiro luxo. Jantares onde era obrigatório ter um mordomo para cada dois convidados. Trocava-se de roupa três vezes por dia: roupa da manhã, da tarde e do jantar ( sempre o dinner-jacket, que sabe-se lá porque, chamamos de smoking ). Pratos de ouro puro, pesados, jóias que se podia usar na rua ( no Rio as mulheres iam passear em Copacabana com diamantes... Mal comparando, lembrei que em 1972 minha mãe ia visitar sua prima na Nove de Julho com colares de ouro grossos... ). Um tempo de imensa segurança, tempo que não volta. Nunca.
Mas não pense em alienação. Guinle se diz de esquerda. Ele ama o luxo, mas quer esse luxo para todos. Sabe o que é a injustiça, mas sabe também que o modelo socialista nunca dará certo. Porque o homem quer mais, quer poder ter.
Livro excelente para se ler a beira da piscina, um anti-Caras, anti-celebridades, Jorge Guinle nos conquista por sua inocência.
PS: O livro expõe algo que eu já suspeitava: O homem que se dá melhor com as mulheres é aquele que as ama integralmente, sem medo.
Já me ia esquecendo!!! O jazz é outro grande amor de Jorge. Ele dividiu mesa de bar com Billie Holiday, Dizzy Gillespie, Charlie Parker. Esteve no Cotton Club em seu auge, viu o bop nascer. Tá tudo no livro. Quem quiser saber mais sobre jazz tem prato cheio.