Interessante como formamos opiniões preconceituosas sem perceber. Eu pensava ser Camilo Castelo Branco um grande chato. Um romântico à novela das seis. Um meloso autor vencido e datado. Pensava.
Então devo ler Camilo. Assim como tive de ler Sá de Miranda, Bocage, Lorna e Vieira. Alexandre Herculano também. Todos portugueses, todos para mim inéditos. Não gostei apenas de Sá de Miranda, ilegível. Mas estou querendo falar de Camilo.
Silvestre Silva é o nome do "heroi". Ele manda a um editor as suas memórias e esse editor as publica. Temos então o relato de Silvestre e os comentários do editor. Esse editor nos mostra as mentiras e os erros de Silvestre. E Camilo narra tudo. Ironia sobre ironia sobre ironia. Tem mais... Silvestre é um inocente. Como um tipo de Quixote, ele crê naquilo que lê. Sivestre lê romances e acredita que a vida é um conto cheio de paixão e de heroísmo. Se dá mal. Apaixona-se dúzias de vezes e sempre faz papel de tolo. Vê em toda mulher uma pureza que nenhuma delas tem. Vê nos outros rivais que eles não são. Rimos de sua pseudo-saga. O que ocorre é vulgar, banal; o que Sivestre vive é para ele trágico.
Toda essa parte corresponde ao coração, a primeira parte da vida de todo homem, a época em que tudo é sentimento e impulso. Vem a cabeça depois. Aqui temos a dúvida, a indecisão e o desejo de saber a verdade. Sivestre se mete na politica, ama com a cabeça, pensa demais, se enrola e fracassa em tudo o que faz. Escreve em jornal, pensa em revolução. Cai.
E vem a felicidade possível: o estômago. Silvestre se enamora de uma moça grande, farta, do campo. Uma moça que cozinha bem, que cuida dele, que o apoia. Silvestre cria sua filosofia: a felicidade só pode vir do estômago porque é ele o mais importante. Tudo fica bem quando a barriga está feliz.
Minha mestra me ensina que o romantismo é sempre irônico, o autor está sempre falando algo que jamais sabemos se é a sério ou se é uma irônica construção. Nunca devemos ler um romântico ao pé da letra. Outra coisa. Portugal odiava a mania francesa de ser ditadora em tudo aquilo que se referia a arte. A relação de Portugal com a França era péssima ( no Brasil não se sabe, mas Napoleão matou 25% da população do país. ) Dessa forma, quando Camilo fala do coração e da cabeça ele fala da França, do romantismo francês e da racionalidade francesa. O estômago é Portugal, o campo, a rapariga simples, a comida e o vinho.
Breve, vivo, fácil de ler, alegre e engraçado. Tudo aquilo que eu imaginava que Camilo não fosse. Vale!
Então devo ler Camilo. Assim como tive de ler Sá de Miranda, Bocage, Lorna e Vieira. Alexandre Herculano também. Todos portugueses, todos para mim inéditos. Não gostei apenas de Sá de Miranda, ilegível. Mas estou querendo falar de Camilo.
Silvestre Silva é o nome do "heroi". Ele manda a um editor as suas memórias e esse editor as publica. Temos então o relato de Silvestre e os comentários do editor. Esse editor nos mostra as mentiras e os erros de Silvestre. E Camilo narra tudo. Ironia sobre ironia sobre ironia. Tem mais... Silvestre é um inocente. Como um tipo de Quixote, ele crê naquilo que lê. Sivestre lê romances e acredita que a vida é um conto cheio de paixão e de heroísmo. Se dá mal. Apaixona-se dúzias de vezes e sempre faz papel de tolo. Vê em toda mulher uma pureza que nenhuma delas tem. Vê nos outros rivais que eles não são. Rimos de sua pseudo-saga. O que ocorre é vulgar, banal; o que Sivestre vive é para ele trágico.
Toda essa parte corresponde ao coração, a primeira parte da vida de todo homem, a época em que tudo é sentimento e impulso. Vem a cabeça depois. Aqui temos a dúvida, a indecisão e o desejo de saber a verdade. Sivestre se mete na politica, ama com a cabeça, pensa demais, se enrola e fracassa em tudo o que faz. Escreve em jornal, pensa em revolução. Cai.
E vem a felicidade possível: o estômago. Silvestre se enamora de uma moça grande, farta, do campo. Uma moça que cozinha bem, que cuida dele, que o apoia. Silvestre cria sua filosofia: a felicidade só pode vir do estômago porque é ele o mais importante. Tudo fica bem quando a barriga está feliz.
Minha mestra me ensina que o romantismo é sempre irônico, o autor está sempre falando algo que jamais sabemos se é a sério ou se é uma irônica construção. Nunca devemos ler um romântico ao pé da letra. Outra coisa. Portugal odiava a mania francesa de ser ditadora em tudo aquilo que se referia a arte. A relação de Portugal com a França era péssima ( no Brasil não se sabe, mas Napoleão matou 25% da população do país. ) Dessa forma, quando Camilo fala do coração e da cabeça ele fala da França, do romantismo francês e da racionalidade francesa. O estômago é Portugal, o campo, a rapariga simples, a comida e o vinho.
Breve, vivo, fácil de ler, alegre e engraçado. Tudo aquilo que eu imaginava que Camilo não fosse. Vale!