A filosofia não responde a nada. E nem se importa com isso. O que ela nos dá é um método de pensamento. Impossível filosofar sem conhecer filosofia. Sem ela voce pensa em círculo e não clareia nada. Filosofar é conversar com as ideias que vieram antes. Por isso é necessário, para filosofar, ler filosofia. Mas livros de filosofia são árduos. Porque eles não dão respostas, antes demonstram a construção, passo a passo, de uma pergunta. André Comte-Sponville nos dá aqui uma bela introdução à filosofia. Seu público alvo são aqueles que sentem o desejo de filosofar. Mas que não conseguem, por enquanto, ler filosofia.
Na tarefa de popularização do pensamento filosófico existem dois caminhos possíveis. A pura picaretagem e a didática. Picaretas são vários e Alain de Bottom é o menos ruim deles. Didáticos são honestos. No didatismo voce pode contar a história da filosofia ou explicar o ato de se filosofar. Bertrand Russell tem uma excelente breve história da filosofia. Apesar de ignorar Schopenhauer e Marcel, é a melhor exposição histórica breve que já li. Sponville não fala de história, fala das doze grandes questões filosóficas. Cada capítulo aborda em seis ou sete páginas um desses tópicos. Ele não vulgariza.
1- A Moral. A moral é individual. Não há uma moral que possa ser imposta. O que é a sua moral? André usa a parábola de Platão: Se voce tivesse um anel que te fizesse invisível, o que voce faria? Mataria? Roubaria? Estupraria? O que voce, mesmo sem ser visto, Não se permitiria fazer? Eis sua moral. Se voce não mataria ou mataria, eis a moral. Ela é sua e não depende de castigo ou de recompensa.
2- A Politica. Politica é história. Moral do grupo. Tudo é politica e não fazer politica é assumir uma não-humanidade. A politica só existe na história de um grupo. Ela é o que o grupo foi e pensa ser. Acordo que nos livra da animalidade.
3- O Amor. André fala de Eros, o amor que falta, o desejo do que não se tem. De Phillia, o amor ao que se tem, o amor feliz, o amor que protege e cuida. E de Ágape, o amor que dá e não recebe, o amor que é caridade, que defende e alimenta a tudo aquilo que é vida. Tudo que nos une a vida é amor: amor a si-mesmo, amor ao dinheiro, ao poder, aos livros, a natureza. Amor ao amor que se tem, ao amor que se dá e o amor que nega o que se é em favor daquele que se ama. Amor que é potencia.
4- A Morte. O paradoxo da morte. A grande questão da filosofia. O que ela é? Como algo que existe ( a morte ) pode não ser? O que seria a vida sem a morte? Porque vivemos se morremos? Como pode a vida ter nascido do nada? E se havia o nada, porque surgiu algo?
5- O Conhecimento. É possível conhecer algo? Voce conhece o que? Sua rua? Mas voce conhece mesmo sua rua? Sua história, sua materialidade, quem vive nela, cada grão de pó, cada mancha, tudo o que ela é, foi e poderá ser. Voce conhece voce-mesmo?
6- A Liberdade. Existe? Se existe, o que é ser livre? Fazer o que quiser? Liberdade é fazer ou ser? André demonstra a ilusão da liberdade e a verdade da liberdade. Eis o que o livro tem de bom: Ele demonstra sempre mais de um lado, mais de dois, mais de três.
7- Deus. Se Deus existe porque existe o mal? Que Pai é esse que nos deixa sofrer? Sponville é ateu, mas fala que afirmar a não existência de Deus é uma imbecilidade. Como afirmar a existência é também uma imbecilidade. Explica o que é um agnóstico, o paradoxo da fé.
8- O Ateísmo. O que é o ateísmo, as formas de ateísmo. O ateu e o agnóstico, o mistério. Não há prova sobre Deus, nada nos leva a aceitar sua existência. O que é o materialismo?
9- A Arte. É o mais satisfatório dos capítulos. O que é a arte? Porque ela existe? André dá a mais perfeita explicação do que seja um gênio: É alguém que cria algo de novo e de diferente, mas, que ao contrário do mero novidadeiro ou charlatão, deixa atrás de si um contingente fértil de seguidores, de discípulos. Eis a superioridade da arte: Se Newton jamais tivesse existido, suas leis com certeza teriam sido descobertas por algum outro. A gravidade estaria lá. Mas se Shakespeare, ou Beethoven, ou Michelangelo jamais tivessem existido, toda sua obra, todos seus seguidores, tudo aquilo que eles, e só eles, criaram, jamais teria nascido. Com certeza o mundo seria outro e nós nos veríamos de modo diferente: menor. Há uma bela definição: Toda verdadeira arte é poesia, pois a poesia é essa linguagem plástica que toca a explicação do que seja a vida.
10- O Tempo. Tempo....o passado e o futuro: existem? Tudo é o presente. Tudo é uma abstração. E se não houvesse gente...haveria tempo? Existe tempo no Cosmos? E pode haver ação sem tempo? O que é a eternidade?
11- O Homem. O que é um homem? Eis um capítulo perturbador. Se um homem é razão, então uma criança deficiente ou vegetativa é o que? Se um homem é comunicação, então um animal que se comunique será humano? Sponville diz que para ele, homem é aquele que nasceu de um homem. Portanto, tudo o que é gerado por dois humanos é humano. Perigo apontado por ele: o dia em que homens puderem nascer de uma criação artificial, de uma fábrica, será isso ainda um homem? Se ele for sem falhas, sem dúvidas, sem medo, será homem?
12- A Sabedoria....
Esses os 12 capítulos. Que são os doze temas mais questionados desde sempre. E todos eles irrespondíveis. Jamais chegaremos a uma conclusão sobre a sabedoria, o homem, o tempo etc e etc. E nem devemos, pois o que tem conclusão está morto, está aprisionado. A ciência lida com conclusões, não a filosofia que não é ciência e nem é arte. ( Mas a ciência pode ser filosófica, assim como a arte ).
Sponville não conclui portanto. Joga questões, as explica, aposta algumas teses ( filosofar é um jogo sem vencedor ), cita alguns filósofos.
Se voce quer começar, eis seu livro.
Na tarefa de popularização do pensamento filosófico existem dois caminhos possíveis. A pura picaretagem e a didática. Picaretas são vários e Alain de Bottom é o menos ruim deles. Didáticos são honestos. No didatismo voce pode contar a história da filosofia ou explicar o ato de se filosofar. Bertrand Russell tem uma excelente breve história da filosofia. Apesar de ignorar Schopenhauer e Marcel, é a melhor exposição histórica breve que já li. Sponville não fala de história, fala das doze grandes questões filosóficas. Cada capítulo aborda em seis ou sete páginas um desses tópicos. Ele não vulgariza.
1- A Moral. A moral é individual. Não há uma moral que possa ser imposta. O que é a sua moral? André usa a parábola de Platão: Se voce tivesse um anel que te fizesse invisível, o que voce faria? Mataria? Roubaria? Estupraria? O que voce, mesmo sem ser visto, Não se permitiria fazer? Eis sua moral. Se voce não mataria ou mataria, eis a moral. Ela é sua e não depende de castigo ou de recompensa.
2- A Politica. Politica é história. Moral do grupo. Tudo é politica e não fazer politica é assumir uma não-humanidade. A politica só existe na história de um grupo. Ela é o que o grupo foi e pensa ser. Acordo que nos livra da animalidade.
3- O Amor. André fala de Eros, o amor que falta, o desejo do que não se tem. De Phillia, o amor ao que se tem, o amor feliz, o amor que protege e cuida. E de Ágape, o amor que dá e não recebe, o amor que é caridade, que defende e alimenta a tudo aquilo que é vida. Tudo que nos une a vida é amor: amor a si-mesmo, amor ao dinheiro, ao poder, aos livros, a natureza. Amor ao amor que se tem, ao amor que se dá e o amor que nega o que se é em favor daquele que se ama. Amor que é potencia.
4- A Morte. O paradoxo da morte. A grande questão da filosofia. O que ela é? Como algo que existe ( a morte ) pode não ser? O que seria a vida sem a morte? Porque vivemos se morremos? Como pode a vida ter nascido do nada? E se havia o nada, porque surgiu algo?
5- O Conhecimento. É possível conhecer algo? Voce conhece o que? Sua rua? Mas voce conhece mesmo sua rua? Sua história, sua materialidade, quem vive nela, cada grão de pó, cada mancha, tudo o que ela é, foi e poderá ser. Voce conhece voce-mesmo?
6- A Liberdade. Existe? Se existe, o que é ser livre? Fazer o que quiser? Liberdade é fazer ou ser? André demonstra a ilusão da liberdade e a verdade da liberdade. Eis o que o livro tem de bom: Ele demonstra sempre mais de um lado, mais de dois, mais de três.
7- Deus. Se Deus existe porque existe o mal? Que Pai é esse que nos deixa sofrer? Sponville é ateu, mas fala que afirmar a não existência de Deus é uma imbecilidade. Como afirmar a existência é também uma imbecilidade. Explica o que é um agnóstico, o paradoxo da fé.
8- O Ateísmo. O que é o ateísmo, as formas de ateísmo. O ateu e o agnóstico, o mistério. Não há prova sobre Deus, nada nos leva a aceitar sua existência. O que é o materialismo?
9- A Arte. É o mais satisfatório dos capítulos. O que é a arte? Porque ela existe? André dá a mais perfeita explicação do que seja um gênio: É alguém que cria algo de novo e de diferente, mas, que ao contrário do mero novidadeiro ou charlatão, deixa atrás de si um contingente fértil de seguidores, de discípulos. Eis a superioridade da arte: Se Newton jamais tivesse existido, suas leis com certeza teriam sido descobertas por algum outro. A gravidade estaria lá. Mas se Shakespeare, ou Beethoven, ou Michelangelo jamais tivessem existido, toda sua obra, todos seus seguidores, tudo aquilo que eles, e só eles, criaram, jamais teria nascido. Com certeza o mundo seria outro e nós nos veríamos de modo diferente: menor. Há uma bela definição: Toda verdadeira arte é poesia, pois a poesia é essa linguagem plástica que toca a explicação do que seja a vida.
10- O Tempo. Tempo....o passado e o futuro: existem? Tudo é o presente. Tudo é uma abstração. E se não houvesse gente...haveria tempo? Existe tempo no Cosmos? E pode haver ação sem tempo? O que é a eternidade?
11- O Homem. O que é um homem? Eis um capítulo perturbador. Se um homem é razão, então uma criança deficiente ou vegetativa é o que? Se um homem é comunicação, então um animal que se comunique será humano? Sponville diz que para ele, homem é aquele que nasceu de um homem. Portanto, tudo o que é gerado por dois humanos é humano. Perigo apontado por ele: o dia em que homens puderem nascer de uma criação artificial, de uma fábrica, será isso ainda um homem? Se ele for sem falhas, sem dúvidas, sem medo, será homem?
12- A Sabedoria....
Esses os 12 capítulos. Que são os doze temas mais questionados desde sempre. E todos eles irrespondíveis. Jamais chegaremos a uma conclusão sobre a sabedoria, o homem, o tempo etc e etc. E nem devemos, pois o que tem conclusão está morto, está aprisionado. A ciência lida com conclusões, não a filosofia que não é ciência e nem é arte. ( Mas a ciência pode ser filosófica, assim como a arte ).
Sponville não conclui portanto. Joga questões, as explica, aposta algumas teses ( filosofar é um jogo sem vencedor ), cita alguns filósofos.
Se voce quer começar, eis seu livro.