A VIDA DE PI- YANN MARTEL

Yann Martel nasceu na Espanha. Foi plantador de chá, lavador de pratos, segurança. Esteve na India e agora vive no Canadá. Em 2001 ganhou o Booker Prize com este livro. Sucesso de vendas, sua versão em cinema será lançada agora, em novembro, por Ang Lee. É o filme mais aguardado do ano. Como tudo em Lee, será sublime como Tempestade de Gelo, ou lamentável como Hulk. Ele não tem meio termo.
O livro é no mínimo inesquecível. Original. Se Paulo Coelho fosse bom escritor seus livros seriam como este. Falo isso porque o tema de Yann é o mesmo de Coelho, com uma diferença crucial: Yann é muito criativo. E sabe escrever. Este livro é sempre uma surpresa, nunca faz o que esperamos.
Um autor em crise vai a procura de Pi. Na verdade esse tal de Pi se chama Piscine e foi um menino indiano que teve a sorte de crescer em Zoológico. ( Penso se o filme de Cameron Crowe já não foi um pouquinho inspirado aqui ). Acompanhamos o escritor que ouve o relato de Pi.
Primeiro a vida no zoo e um belo e longo relato sobre sua adolescência e o que é a vida de um animal num zoológico. Nessa parte o livro é risonho. Um prazer leve e claro acompanha sua leitura. Piscine cresce e se interessa por religião. Em relato humorístico, vemos sua conversão ao hinduísmo, depois ao catolicismo e por fim ao islã. Todas sinceras e todas naturais. A vida é feliz para Piscine. Seu pai ama o esporte e a mãe é o que uma mãe deve ser.
Mas vem a guinada. O zoo fecha e eles embarcam os bichos para o Canadá. Mas o navio afunda. Piscine deverá sobreviver num bote, no Pacífico, com uma zebra, uma hiena, uma orangotango e um tigre. Pi irá passar quase um ano à deriva.
Todo esse trecho do livro é um pesadelo. Os animais se comem, ele se desespera, mas vive. Por fim sobram ele e o tigre.
Não contarei o resto. O que posso falar é que o fim é extremamente surpreendente. Yann Martel dá um nó na história e na nossa cabeça. Torce a conclusão, usa duas suposições, dá um toque de ironia suprema. Se voce for ateu achará o final "como deve ser". Se for religioso, achará o final "como deve ser" também. O modo como voce reagir à conclusão mostrará quem voce é.
Gosto de livros com linguagem mais elaborada. Como bom estudante de letras, pouca importância dou ao tema, o que me seduz num autor é seu estilo ( daí meu amor por Henry James e Proust, autores que são puro estilo ). O estilo aqui é o do best-seller, simples, comum, sem firulas de lingua e imagem. Mas o que o salva, e o ergue, é sua criatividade. Yann Martel tem o que falar, não é mais um autor falando sobre o tédio, mais um cara que escreve sem ter nada para dizer. Ele tem muito pra narrar. Conta uma bela história.
Raras vezes choro com um livro. Belos filmes me fazem chorar, literatura me eleva, me espiritualiza, mas não provoca lágrimas ( ou risos ). Este tem uma linha que me emocionou muito. É um "Eu te Amo". Dito perto do fim do livro. Quem ler saberá.
Até lá.